Avós da Praça de Maio encontram neto 138, levado durante a ditadura argentina

Conferência de imprensa durante a qual a líder da organização de direitos humanos Avós da Praça de Maio, Estela de Carlotto (D), anuncia restituição da identidade do neto número 138 em Buenos Aires no dia 27 de dezembro de 2024.JUAN MABROMATA

JUAN MABROMATA

A organização de direitos humanos Avós da Praça de Maio anunciou, nesta sexta-feira (27), que foi encontrado o neto 138, apropriado durante a ditadura argentina (1976-1983). Ele é filho de um casal de militantes políticos sequestrados em 1976 e desde então desaparecidos.

“Trata-se do filho de Marta Enriqueta Pourtalet e Juan Carlos Villamayor, nascido em dezembro de 1976. São, assim, 138 casos resolvidos nesses 47 anos de busca incansável pela verdade e pela identidade”, afirmou em coletiva de imprensa a presidente das Avós, Estela de Carlotto.

“No dia 10 de dezembro de 1976, o casal foi sequestrado em sua residência na Cidade de Buenos Aires durante uma operação realizada por agentes à paisana. Marta estava grávida de oito meses e meio”, acrescentou Carlotto, ao falar no auditório do Espaço Memória e Direitos Humanos, onde funcionava o centro clandestino da Escola de Mecânica da Armada (ESMA).

Pourtalet e Villamayor militavam na organização guerrilheira Montoneros (esquerda peronista). Após o sequestro, o casal foi visto na ESMA, um dos maiores centros de tortura e extermínio por onde passaram mais de 5 mil prisioneiros políticos, dos quais cerca de 100 sobreviveram, segundo organizações humanitárias.

“Possivelmente foi lá que ocorreu o nascimento do neto 138. Até o momento, estão contabilizados mais de 30 nascimentos nesse centro clandestino”, destacou Carlotto.

A presidente das Avós também explicou que o neto encontrado tem um irmão, chamado Diego, nascido em 1972 e filho de Marta com um parceiro anterior.

O encontro do neto 138 é o primeiro comunicado pela entidade desde 1º de setembro de 2023, quando foi anunciada a resolução de quatro casos de famílias que buscavam filhos nascidos durante o cativeiro de suas mães. Em todos esses casos, foi possível estabelecer a identidade de mulheres assassinadas antes de dar à luz.

Esse também é o primeiro caso resolvido durante a presidência de Javier Milei, que contesta a narrativa histórica sobre a ditadura argentina. Tanto ele quanto sua vice-presidente, Victoria Villarruel — que possui proximidade com os militares —, questionam o número de desaparecidos estimado por organizações de direitos humanos (30 mil), alegando que o número real seria próximo de 8.700.

As Avós da Praça de Maio continuam buscando cerca de 300 netos nascidos durante o cativeiro de suas mães.

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