O que se sabe e o que falta esclarecer sobre a suposta agressão contra filho do ministro Alexandre de Moraes

Depoimentos dos suspeitos, que negam agressões, conflitam com o que foi relatado por Moraes à PF. Polícia aguarda imagens de aeroporto de Roma para analisar momento da confusão. Polícia faz buscas na residência de casal investigado por hostilizar Alexandre de Moraes
A Polícia Federal (PF) aguarda imagens do aeroporto de Roma, na Itália, para analisar o suposto momento em que o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes, teria sido hostilizado, além da suposta agressão contra o filho dele, na última sexta-feira (14).
Já foram realizados os trâmites burocráticos para que as imagens cheguem ao Brasil. O material foi entregue pelo aeroporto na noite de segunda-feira (17). Os vídeos mostram minutos antes, durante e depois da discussão.
Já os depoimentos dos suspeitos conflitam com o que foi relatado por Moraes à PF. O ministro aponta que ele e seus familiares foram hostilizados, e que seu filho foi alvo de um tapa.
Por outro lado, os três suspeitos ouvidos pela PF negaram as agressões. O casal Roberto Mantovani Filho e Andréia Mantovani, na verdade, afirma que foi ofendido pelo filho do ministro.
Ela admite que comentou sobre um suposto privilégio do ministro, que entrou em uma sala VIP do aeroporto ao qual eles não conseguiram entrar. Mas que fez o comentário quando o ministro já não estava no local.
Já Roberto admitiu ter “afastado com o braço” o filho do ministro para defender a esposa. A seguir, entenda o que se sabe e o que falta saber sobre o caso.
Andreia, Alex Zanatta (ao centro) e Roberto Montovani Filho no Aeroporto de Guarulhos
Reprodução
O que se sabe:
À Polícia Federal, Moraes relatou que, no dia 14 de julho, entre 18h45 e 19h, Roberto Mantovani Filho, Andréia Mantovani e Alex Zanatta Bignotto teriam hostilizado e proferido ofensas ao ministro e seus familiares.
Também conforme o relato, Andréia teria afirmado que o ministro seria “bandido, comunista e comprado”.
E que Roberto Mantovani Filho teria proferido gritos, empurrado e desferido um tapa nos óculos do filho do ministro.
No domingo (16), o trio foi intimado para depor na Delegacia de Polícia Federal de Piracicaba.
Alex Zanatta Bignotto prestou depoimento ainda no domingo e negou as acusações.
Roberto e Andréia Mantovani foram ouvidos nesta terça-feira (18) e negaram ter agredido o filho do ministro. Eles afirmam que, na verdade, foram vítimas de ofensas por parte do filho de Moraes.
Andréia admite que comentou que Moraes teria sido privilegiado ao entrar em uma sala VIP do aeroporto que eles não conseguiram acessar, mas que fez o comentário quando o ministro já não estava no local.
Nos depoimentos, conforme o defensor, Roberto admitiu ter “afastado com o braço” o filho do ministro para defender a esposa.
Também nesta terça, a PF cumpriu mandados de busca e apreensão em endereços ligados a quatro pessoas envolvidas no episódio, em Santa Bárbara d’Oeste (SP). Foram apreendidos celulares e computadores.
A Interpol (Organização Internacional de Polícia Criminal) recebeu as imagens do momento da confusão. Agora, a Secretaria de Justiça italiana tem que autorizar o compartilhamento do material para que ele chegue ao delegado do caso no Brasil.
O que falta saber:
Se as imagens confirmam ou não o ministro e sua família foram hostilizados.
Se os investigados estavam envolvidos no suposto caso.
Se as filmagens captaram agressão ao filho de Moraes.
Se as imagens trazem alguma comprovação de que os suspeitos sabiam que o rapaz envolvido na confusão era filho do ministro.
Se há conteúdos nos celulares e computadores apreendidos que sirvam como evidências para o caso.
Casal acusado de agredir Moraes presta depoimento; Defesa alega que tudo foi um desentendimento comum
Veja, ponto a ponto, o que a defesa diz que o casal alegou à PF:
Roberto Mantovani
Disse que houve um momento de tensão quando o ministro Alexandre de Moraes tentou entrar em uma sala VIP do aeroporto.
Que outras pessoas proferiram xingamentos contra o ministro.
Que a mulher dele, Andréia, de maneira equivocada, achou que o ministro estava tendo privilégio para entrar na sala.
Que houve uma discussão entre o filho do ministro e o casal.
O filho de Moraes teria perguntado se Roberto “queria briga”, e ele teria respondido que apenas queria defender a esposa.
Disse que afastou o filho do ministro com o braço, sem qualquer dano, e que pode ter esbarrado nos óculos.
Roberto alegou que saiu do local com a família e que, quando voltou, o filho do ministro teria tentado novamente iniciar a discussão.
Roberto alegou à PF que não sabia que a discussão era com o filho do ministro.
Andréia Mantovani
Disse que a família dela não teve permissão para entrar na sala VIP.
Que estava com dois netos e que na hora disse: “pra político tem lugar, pra gente com criança e um idoso não tem lugar”.
Que, quando fez essa fala, o ministro já não estava no local.
Que, posteriormente, a família constata que para entrar na sala VIP teriam de ter feito uma reserva antecipada, que não foi realizada.
Conforme o advogado, havia um casal no local. Uma moça teria gesticulado apontando o dedo para Andréia. Nesse instante, um rapaz teria se aproximado e começado a mandar beijos para ela de forma ofensiva.
Posteriormente, eles tomaram conhecimento, quando desembarcaram, que o rapaz era o filho do ministro.
Ainda conforme o relato do advogado, Roberto, que segurava uma salada de frutas com uma das mãos, afastou o filho do ministro com a outra.
Andreia e Roberto garantem que os óculos de ninguém caíram no chão.
Também segundo o defensor, o ministro saiu da sala VIP, fotografou as pessoas que estavam no local e retornou com o filho para dentro da sala.
Alex Zanatta, que prestou depoimento à Polícia Federal em Piracicaba (SP) no domingo (16), negou as acusações.
Alex Zanatra Bignotto deixa sede da PF em Piracicaba
Danilo Telles/Rádio Metropolitana
Investigação
Quatro pessoas foram intimadas a depor, sendo que três como suspeitos e um como testemunha.
Foi instaurado um inquérito policial para apurar acusações de agressão, ameaça, injúria e difamação. Segundo o Código Penal, os crimes praticados por brasileiros, embora cometidos no estrangeiro, ficam sujeitos à lei brasileira
Quem são os envolvidos
Roberto Mantovani Filho, apontado como a pessoa que agrediu o filho de Moraes, é de Santa Bárbara d’Oeste (SP) e foi candidato a prefeito pelo PL em 2004, mas perdeu as eleições. Desde 2016, ele é filiado ao PSD. Após o caso, o partido informou que vai acionar a comissão de ética contra Roberto.
Além do empresário, a Polícia Federal também identificou outros dois agressores: uma mulher, identificada como Andreia Mantovani, esposa de Roberto, e Alex Zanatta Bignotto, dono de uma imobiliária em Santa Bárbara d’Oeste.
Casal suspeito de agredir e hostilizar família de Alexandre de Moraes chega para depor em Piracicaba
Guilherme Leal/CBN
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