Suspeita de envenenar bolo disse em mensagem para ‘não procurar culpados onde não há’ após morte de sogro, afirma polícia


Três pessoas da mesma família morreram após comer bolo. Exumação de corpo de sogro, morto em setembro, comprovou presença de veneno no organismo. IGP detalha análises que identificaram arsênio no bolo
Em mensagens enviadas à sogra, Zeli dos Anjos, depois da morte do sogro, em setembro, Deise Moura dos Anjos, suspeita de envenenar o bolo que matou três pessoas, sugeriu que a família parasse de “procurar culpados onde não há”. Nas mensagens enviadas a Zeli, ela ainda diz que “nem polícia, nem perícia” poderiam ajudar a família a descobrir a causa da morte.
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A perícia feita no corpo de Paulo Luiz dos Anjos, sogro de Deise morto em setembro, constatou que ele ingeriu arsênio antes de morrer. Paulo morreu de infecção intestinal após consumir bananas e leite em pó levados à casa dele pela nora. A polícia confirmou nesta sexta que a causa da morte do homem foi envenenamento.
“Acho que precisamos rezar mais, aceitar mais e não procurar culpados onde não há. Só os momentos que Deus nos reserva, isso sim, não têm volta. Nem polícia, nem perícia que possa nos ajudar a desvendar”, diz a mensagem enviada por Deise à sogra.
Mensagem enviada pela suspeita de envenenar bolo em Torres para a sogra
Jonathan Heckler/Agência RBS
Em outra mensagem enviada à sogra, Deise lista motivos que poderiam ter causado a morte de Paulo.
“Não sei, acho que eu não faria nada, pois poderia ter sido várias coisas: intoxicação alimentar, negligência médica, a banana contaminada pela enchente, ou simplesmente a hora dele… Sei lá.”
Os textos foram expostos pela polícia em uma entrevista coletiva realizada na manhã desta sexta-feira (10). Na manifestação, a polícia afirmou que Deise comprou e usou arsênio para matar as três pessoas da mesma familia.
Deise Moura dos Anjos está presa temporariamente, e é investigada por suspeita de triplo homicídio e de três tentativas de homicídio. A fonte da contaminação por arsênio foi a farinha usada para fazer o bolo consumido pelas vítimas, conforme as autoridades. (Entenda abaixo)
Em outra mensagem apresentada pela polícia, enviada para uma pessoa com quem mantinha relacionamento, Deise desabafa:
“Se eu morrer, cuide do meu filho e reze bastante por mim, pois é bem provável que eu não vá para o paraíso.”
Sogra de mulher suspeita de envenenar bolo tem alta
A defesa de Deise afirma que “as declarações divulgadas na coletiva de imprensa ainda não foram judicializadas no procedimento sobre o caso”, portanto “aguarda a integralidade dos documentos e provas para análise e manifestação”.
A polícia informou ainda, nesta sexta, que Deise comprou arsênio quatro vezes no período de quatro meses, sendo que uma dessas compras aconteceu antes da morte do sogro, e as outras três antes da morte das três pessoas em dezembro. O produto teria sido comprado pela internet e recebido pelos Correios.
De acordo com a delegada Sabrina Deffente, diretora regional da polícia no Litoral Norte, Deise praticava “tentativas de homicídio em série”. Ainda segundo a delegada, há indícios de que Deise “tenha praticado outros envenenamentos em pessoas proxímas da família”.
“Não temos dúvida de que se trata de uma pessoa que praticava homicídios e tentativas de homicídio em série. Por muito tempo não foi descoberta, e por muito tempo tentou apagar as provas”, diz a delegada.
O relatório preliminar da extração de dados dos celulares apreendidos, ao qual o g1 teve acesso, apontou ainda buscas feitas na internet por termos como “arsênio veneno”, “arsênico veneno” e “veneno que mata humano”. As informações constam da representação da Polícia Civil pela prisão temporária da suspeita.
Deise nega qualquer responsabilidade sobre as mortes. Em nota, a defesa alegou que as prisões temporárias “possuem caráter investigativo” e que “ainda restam diversos questionamentos e respostas em aberto neste caso”.
Casa de Zeli, em Arroio do Sa, onde suspeita teria feito pesquisas sobre veneno
Reprodução/ RBS TV
➡️ Qual é a origem da contaminação?
O Instituto Geral de Perícias (IGP) do Rio Grande do Sul detalhou o processo das análises que detectaram a presença de arsênio na farinha do bolo que causou as mortes das três mulheres.
Ao longo de uma semana, 89 amostras foram analisadas, e em apenas uma, a da farinha, foi encontrado arsênio. O composto estava em uma concentração 2.700 vezes maior que a encontrada no bolo.
Para encontrar a origem da contaminação, foi utilizado um equipamento de fluorescência de raio-X. O material tem uma série de bancos de dados para a identificação de metais usados, principalmente no solo, mas também em ligas metálicas como joias.
Ao fazer o escaneamento das amostras, o equipamento mostrou uma lista de concentração de quais metais poderiam estar presentes nessas análises. Segundo Lara Regina Soccol Gris, chefe da Divisão de Química Forense do IGP, o arsênio encontrado foi o material mais presente na farinha.
“Nós testamos o próprio bolo com esse equipamento. Já acusou muito positivo, digamos assim, pro bolo. E para farinha, então, foi uma concentração muito superior”, explica.
Amostras coletas pelo Instituto Geral de Perícias (IGP)
Reprodução/ RBS TV
O IGP também analisou o material coletado nas três pessoas que morreram. Maida e Neusa, irmãs de Zeli, e Tatiana, sobrinha da idosa. Os exames mostraram uma alta concentração de arsênio no estômago, no sangue e na urina das vítimas.
No estômago de Tatiana, a perícia identificou a concentração de 384 mil microgramas de arsênio por litro, sendo assim a maior de todas. Isso significa que a concentração estava 11 mil vezes acima do que poderia ser considerado uma contaminação acidental.
Foto mostra suspeita sorrindo ao lado de sogra e bolo igual ao envenenado em 2021
Os envenenados
As três pessoas que morreram após consumir o bolo são: as irmãs Neuza Denize Silva dos Anjos e Maida Berenice Flores da Silva, e a filha de Neuza, Tatiana Denize Silva dos Anjos.
Entenda quem é quem no caso do bolo em Torres
A mulher que preparou o bolo, Zeli dos Anjos, recebeu alta do hospital nesta sexta-feira (10). A criança de 10 anos que também comeu o bolo recebeu alta do hospital na sexta-feira.
Relembre o caso
De acordo com a Polícia Civil, sete pessoas da mesma família estavam reunidas em uma casa, durante um café da tarde, quando começaram a passar mal. Apenas uma delas não teria comido o bolo. Zeli dos Anjos, que preparou o alimento, em Arroio do Sal e levou para Torres, também foi hospitalizada.
Segundo o delegado Marcos Vinícius Veloso, Zeli foi a única pessoa da casa a comer duas fatias. A maior concentração do veneno foi encontrada no sangue dela. A fonte da contaminação por arsênio foi a farinha usada para fazer o alimento consumido pelas vítimas, conforme o IGP.
Três mulheres morreram com intervalo de algumas horas. Tatiana Denize Silva dos Anjos e Maida Berenice Flores da Silva tiveram parada cardiorrespiratória, segundo o hospital. Neuza Denize Silva dos Anjos teve como causa da morte divulgada “choque pós-intoxicação alimentar”.
Nota da defesa da suspeita
O escritório Cassyus Pontes Advocacia representa a defesa de Deise Moura dos Anjos no inquérito em andamento sobre o fato do Bolo, na Comarca de Torres, tendo sido decretada no domingo a prisão temporária da investigada.
Todavia, até o momento, mesmo com o pedido da Defesa deferido pelo judiciário, ainda não houve o acesso ao inquérito judicial.
A família, desde o início, colabora da investigação, inclusive o com depoimento de Deise em delegacia, anterior ao decreto prisional.
Cumpre salientar, que as prisões temporárias possuem caráter investigativo, de coleta de provas, logo ainda restam diversos questionamentos e respostas em aberto neste caso, os quais não foram definidos ou esclarecidos no inquérito.
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