Trisavó, bisavô e avós contam história de amor entre gerações em SC

Amorosos, dedicados, acolhedores, experientes. Nesta quarta-feira (26), a homenagem é para os avós. Hoje é o dia em que se comemora o legado e os ensinamentos deixados por eles.

Maria Emília Sardá, de 103 anos, é um desses lindos exemplos. Com seis filhos, 17 netos, 10 bisnetos e dois trinetos, a matriarca recebe de volta e potencializado o amor que tanto já doou para a família.

Família de Maria Emília Sardá – Foto: Leo Munhoz/ND

Nascida em Rancho Queimado, em 1920 – década conhecida como “anos loucos”, por causa da mudança de valores e a libertação da mulher -, Maria Emília demonstrou a coragem feminina e a força do amor ao longo de seus 103 anos.

Já no começo da sua vida, aos 8 anos, ela teve a oportunidade de estudar em Antônio Carlos, mas dois anos depois precisou se mudar para Anitápolis, para ajudar os pais na roça.

Símbolo de coragem

A grande família começou em 1947, com o casamento da matriarca com o Cidni Alvim Caetano. Eles firmaram matrimônio em 1947, em Anitápolis, na Grande Florianópolis.

Juntos tiveram seis filhos: Armelinda Goedert, 76; Nadir Machado, 75; Air Caetano, 73; Maria de Lourdes Gonçalves, 71; Adelir Catarina Gonçalves, 70; e Ademar Sedenir Caetano, 67. Quando Cidni morreu, em fevereiro de 1964, aos 35 anos, Maria, aos 44 anos, viu a necessidade de criar os seis filhos sozinha. Com muita coragem, e em respeito ao pedido dos filhos, se mudou em junho de 1971 para Florianópolis.

Maria Emília tem 103 anos – Foto: Leo Munhoz/ND

“O que eu mais tenho em memória é a coragem da minha mãe. Quando decidimos deixar o interior, ela com seus 50 anos, pegou os seis filhos, colocou tudo em cima de um pequeno caminhão e fez a vontade das filhas que não quiseram permanecer onde estavam. Queríamos ir em busca de oportunidades com ela”, relembra Maria de Lourdes Gonçalves, filha de Maria Emília.

Maria de Lourdes também relata os julgamentos pelos quais a matriarca enfrentou na época.

“Alguém perguntou para ela: ‘o que você vai fazer com tantos adolescentes numa cidade grande? Algum erro vai dar’. E ela nunca perdeu a coragem de nos conduzir da maneira correta, que é a dignidade de um ser humano. Trouxemos essa dignidade em seus ensinamentos durante a vida”, disse Maria de Lourdes.

Legados de avó

Com tantos ensinamentos, a primogênita Armelinda Goedert diz que aprendeu que a boa educação, a paciência e a resiliência são a chave para uma vida feliz.

“Minha mãe sempre deu muita atenção para suas netas e netos. Minhas filhas, quando sabiam que a vó iria passar uns dias lá em casa, ficavam esperando na janela e, quando ela apontava lá no finalzinho da rua, na curvinha, era uma festa. Passo para os meus quatro netos que eles são tudo para mim, são a alegria da casa da vó e do vô”, relembra Armelinda Goedert.

Maria de Lourdes transmite aos seus dois netos o que aprendeu com a sabedoria de sua mãe. “Hoje, nós temos uma capacidade maior de falar de amor. Transmitimos muito este sentimento, o respeito. Evitamos qualquer tipo de conflito. Mas, acima de tudo, dou muito amor aos meus netos e, com certeza, isso veio dela”.

O maior ensinamento que Adelir Catarina Gonçalves pode transmitir para as duas netas é o tempo bem aproveitado.

“Eu procuro passar para as minhas netas aquilo que aprendi como filha. Respeitar as pessoas, especialmente o pai, a mãe e os avós. Valorizar a família, aproveitar o tempo que temos juntas, isso aprendi com a minha mãe. Espero que as minhas netas levem estes ensinamentos para a vida, até porque ela passa bem rapidinho”, aponta.

Para o caçula, Ademar Caetano, avô de três crianças pequenas, o significado de ser avô é muito especial.

“É como criar um filho de novo. Quando temos um filho, não estamos tão preparados para dar aquela opção de carinho que eles merecem. Mas quando viramos avô, a gente baba mesmo”, declara rindo.

Ultrapassa gerações

Falta espaço para traduzir o carinho que a família tem com a avó. Dos 17 netos, 10 bisnetos e dois bisnetos, muitos não puderam relatar o amor que sentem pela matriarca. Mas, de acordo com a neta, Josiane Carla Goedert, 48, a avó sabe o nome de todos e os reconhece quando os vê.

“Se você perguntar os nomes dos netos, ela vai dizer. Até a gente esquece às vezes, mas ela não. Sabe até o aniversário, é um amor. Ficamos maravilhadas, a nossa convivência é muito boa. Ela é uma avó incrível”, destaca.

Irmã da Carla, Jeovana Pereira, 44, conta que aprendeu muito com a avó e leva esses ensinamentos para a vida.

“Minha avó ia dominar o mundo se tivesse oportunidade de estudar. Já descobri que ela até aprendeu a falar um pouco de alemão. Eu descrevo a vó com a minha docinha. Tive a oportunidade de viver com a vó mais de perto. Ela sempre foi muito grata e percebo que quem tem que agradecer somos nós. Ela é uma lição de vida, resiliência, força. A minha vó é uma pessoa fantástica”.

É claro que, com tanto amor, a vozinha Maria Emília Sardá é só felicidade. “É uma alegria ver todos juntos reunidos. Esta é minha família, meu amor”, declarou.

A figura dos avós na família

A família de Maria Emília é um dos exemplos de diversos vovós e vovôs espalhados pelo mundo. Conforme explica a pós-doutora em psicogerontologia e professora da USP (Universidade de São Paulo), Deusivania Falcão, os avós representam a experiência, a sabedoria. “São pessoas que acumulam uma bagagem ao longo dos anos, e são vistas muitas vezes como conselheiras”, aponta.

Mais do que isso, para Deusivania, os avós representam a cultura de uma família.

“A nossa cultura é muito familista, ou seja, prioriza as relações familiares É como se eles fossem ícones. Foi por onde tudo começou. Então, nesse sentido, são muitos importantes”, finaliza.

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