Itamaraty celebra trégua em Gaza, mas ressalta acordo em etapas e vê futuro

A diplomacia brasileira celebrou o início do acordo de cessar-fogo entre Israel e Hamas na Faixa de Gaza. Mesmo assim, fontes do Itamaraty ouvidas pela CNN ressaltam ser preciso observar ainda com atenção o passo a passo das ações dado o cronograma longo do acordo antes de considerar qualquer situação resolvida — até mesmo porque há quem faça prognósticos de cenários difíceis a ficarem pendentes na região e não se sabe se os ataques voltarão após a trégua.

A primeira etapa do cessar-fogo, de 42 dias — após mais de um ano e três meses de conflito –, começou de forma efetiva em 19 de janeiro com a libertação de três reféns israelenses. As três mulheres fazem parte dos primeiros 33 reféns a serem devolvidos a Israel. O governo israelense, por sua vez, deve devolver pelo menos 737 presos palestinos.

O acordo também prevê uma pausa no combate em Gaza – o avanço militar de Israel continua sobre a Cisjordânia – e um aumento no acesso de ajuda humanitária aos palestinos, por exemplo.

O Ministério das Relações Exteriores disse, em nota, que o governo brasileiro “tomou conhecimento, com grande satisfação”, do anúncio de cessar-fogo. Nos bastidores, o acordo realmente é visto como positivo, é claro — especialmente após as mais de 47 mil vítimas fatais e toda a destruição causada.

A primeira parte do acordo está em andamento. Agora, diplomatas afirmam ser preciso observar com atenção cada passo de sua continuidade – especialmente por se tratar de um cronograma longo numa situação delicada. Qualquer passo em falso de qualquer um dos lados pode colocar todo o acordo a perder.

Integrantes do Itamaraty chamam a atenção para o fato de o Hamas não ter sido extinto. Pelo contrário, consideram uma demonstração de força e resiliência a presença de uma multidão de palestinos ao redor dos carros que transportaram as três reféns israelenses, antes de elas serem libertadas. Portanto, a hostilidade do Hamas perante a existência de Israel continuará, enquanto o governo de Benjamin Netanyahu também não pretende ceder em nada ao grupo.

Outro ponto que ajuda a gerar incertezas é uma avaliação de enfraquecimento da Autoridade Palestina – entidade reconhecida pela comunidade internacional em negociações com o povo palestino. Há dúvidas sobre quem poderia ser uma liderança palestina legítima e forte o suficiente na Faixa de Gaza num eventual fim da guerra na região.

Na nota sobre o cessar-fogo, o Itamaraty disse que o Brasil “reitera seu compromisso com a solução de dois Estados, com um Estado da Palestina independente e viável, vivendo lado a lado com Israel, em paz e segurança, dentro das fronteiras de 1967, que incluem a Faixa de Gaza e a Cisjordânia, tendo Jerusalém Oriental como sua capital”.

Na prática, não há indícios que apontam que essa configuração esteja mais próxima de se concretizar. Um aspecto observado por um diplomata brasileiro ouvido pela reportagem é que Mike Huckabee, o embaixador dos Estados Unidos em Israel escolhido pelo novo presidente americano, Donald Trump, é defensor assíduo de assentamentos israelenses na Cisjordânia, que inclusive chama pelos nomes bíblicos de Judeia e Samaria.

Já a escolhida por Trump para ser a embaixadora dos Estados Unidos na Organização das Nações Unidas (ONU), Elise Stefanik, também deu declarações no sentido de que Israel tem direitos à Cisjordânia com base em argumentações bíblicas.

Este conteúdo foi originalmente publicado em Itamaraty celebra trégua em Gaza, mas ressalta acordo em etapas e vê futuro no site CNN Brasil.

Adicionar aos favoritos o Link permanente.