Com 60 anos de carreira, médico do interior de SP foi pioneiro no Brasil ao receber título de dermatologista


João Roberto Antônio, médico e professor, dedicou sua vida à medicina e, mesmo após décadas de trajetória, ainda tem grandes objetivos profissionais. Filho de imigrantes libaneses, ele revela como a paixão pela profissão o move até hoje. Médico de Rio Preto com 60 anos de carreira é pioneiro no Brasil ao receber título de especialista em dermatologia
Arquivo pessoal
Com uma trajetória que ultrapassa seis décadas, o médico e professor João Roberto Antônio, de 86 anos, morador de São José do Rio Preto (SP), é um nome conhecido quando se fala sobre os avanços em dermatologia.
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Ele se tornou um dos primeiros profissionais no país a obter o Título de Especialista em Dermatologia (TED), em 1967 – à época, um marco na história da medicina especializada no Brasil. Um ano depois, foi um dos fundadores da Faculdade de Medicina de Rio Preto (Famerp).
Desde então, além de atuar no atendimento aos pacientes, João também auxilia na formação de novos médicos na instituição de ensino e no aprimoramento de tratamentos e pesquisas que atravessam fronteiras.
Ele lembra que sempre teve um objetivo claro: tornar-se médico. Desde a infância, via nos profissionais que cuidavam de sua família exemplos de dedicação e empatia: “Meus pais, imigrantes libaneses com pouco estudo, sempre diziam que gostariam que os filhos fizessem medicina. E assim foi: desde jovem, meu objetivo foi único, ser médico, sem nunca pensar em outra profissão”, revela.
A escolha foi consolidada na adolescência e sua jornada começou a se desenhar com grandes sacrifícios pessoais.
Legado na dermatologia
Após conquistar seu diploma na Faculdade Nacional de Medicina da Universidade do Brasil, hoje Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), em 1964, ele seguiu para a especialização em dermatologia no Rio de Janeiro (RJ), onde obteve o Título de Especialista e se tornou um dos primeiros a exercer a carreira de dermatologista no Brasil.
Em 1967, com o título recém-conquistado, escolheu se estabelecer em Rio Preto e iniciou sua atuação como Professor Regente de Dermatologia na Fundação Educacional de São José do Rio Preto (Famerp), à época conhecida como Farme.
Ao longo de sua carreira, João Roberto Antônio construiu um legado que se estende não apenas no ensino de dermatologia, mas também na implementação de práticas inovadoras e na participação ativa em congressos nacionais e internacionais.
Ele foi presidente de duas importantes entidades da dermatologia: a Sociedade Brasileira de Cirurgia Dermatológica e a Sociedade Brasileira de Dermatologia de São Paulo, cargos que lhe conferiram uma posição de destaque no cenário médico do país.
Foto do Hospital de Base de Rio Preto, tirada por João Roberto em 1967, já na posição de professor
Arquivo pessoal
Em 1968, João Roberto fez parte do seleto grupo de fundadores da Famerp, contribuindo para a estruturação inicial da faculdade e para o crescimento do Hospital de Base (HB) de Rio Preto, onde atua até hoje como chefe do setor de dermatologia.
“Em 1967, o Hospital de Base ainda não estava terminado, mas foi lá que iniciamos o atendimento e vi o hospital nascer e se desenvolver até se tornar uma referência de excelência no Brasil”, afirma.
Durante sua trajetória, o professor se dedicou intensamente ao ensino. Ao longo de mais de cinco décadas, ele formou gerações de médicos, muitos dos quais hoje são profissionais renomados, atuando em consultórios e hospitais no Brasil e no exterior.
O serviço de dermatologia da Famerp, sob sua liderança, formou um corpo docente de 23 professores e 14 residentes, contribuindo para a continuidade de sua missão educacional.
Inovações
João Roberto também presenciou e contribuiu ativamente para grandes transformações na dermatologia. Durante sua carreira, a especialidade passou por um processo de ampliação de suas fronteiras.
Homenagem recebida no Congresso do Colégio Ibero-Latino-Americano de Dermatologia, em São Paulo, onde o doutor foi reconhecido como ‘Maestro de la Dermatología’
Arquivo pessoal
O surgimento da cirurgia dermatológica, em 1988, e a chegada da cosmiatria (especialidade que trata a beleza de forma ética e profissional para realizar procedimentos e tratamentos focados na manutenção e melhora da aparência da pele), na década de 1990, revolucionaram a maneira como os dermatologistas abordam o cuidado com a pele.
“Quando comecei, a dermatologia era basicamente clínica, com diagnósticos feitos a partir dos sinais e sintomas. Com o tempo, as técnicas cirúrgicas e os tratamentos estéticos surgiram e, hoje, a dermatologia é uma especialidade completa”, afirma o médico.
Além disso, sua carreira se expandiu internacionalmente, com a participação em congressos e eventos acadêmicos em países como Estados Unidos e na Europa. Ele foi um dos primeiros médicos brasileiros a integrar entidades como o Colégio Ibero-Latino-Americano de Dermatologia e a European Academy of Dermatology and Venereology, além de ser membro da American Academy of Dermatology.
Encontro de João com o presidente John F. Kennedy nos jardins da Casa Branca, Washington D.C., 1962. Na foto, ele está no centro, durante viagem promovida pela Faculdade de Medicina
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Próximos desafios
Apesar de sua vasta experiência, João Roberto segue imerso no aprendizado contínuo. Ele participa de estudos internacionais no Centro Integrado de Pesquisas do Hospital de Base (CIP), atuando como Investigador Principal em estudos de doenças dermatológicas, especialmente na área de neurofibromatose, tema de sua tese de doutorado.
Em sua clínica particular, que está em funcionamento há 58 anos, ele recebe pacientes de várias regiões do país.
Uma de suas especialidades é a calvície, cientificamente conhecida como alopecia androgenética, a forma mais comum da perda de cabelos em homens e mulheres. Ele explica que, nos homens, a condição é predominantemente genética, enquanto que, nas mulheres, pode estar associada a distúrbios hormonais, além de fatores genéticos.
Ainda segundo o médico, a dermatologia tem avançado significativamente nesse campo, combinando novas medicações, terapias a laser e injeções intradérmicas para estimular o crescimento capilar.
Com um olhar atento para o futuro da medicina, o especialista acredita que a chave para a evolução do setor está na capacitação contínua dos profissionais e no bom relacionamento médico-paciente, que deve ser preservado independentemente dos avanços tecnológicos.
“A tecnologia pode melhorar diagnósticos e tratamentos, mas o vínculo humano continua sendo essencial”, enfatiza.
Dr. João Roberto presente em um recente congresso promovido pela Sociedade Brasileira de Dermatologia.
Arquivo pessoal
Ao longo de sua carreira, o dermatologista enfrentou inúmeros desafios. No entanto, seu maior ensinamento foi o valor da persistência e da esperança no cuidado com os pacientes.
“Ser médico é ser amigo. Muitas vezes, o que o paciente mais precisa não é de uma cura, mas de um ombro amigo que o compreenda”, reflete.
Hoje, com mais de 60 anos de carreira, o médico olha para o passado com gratidão e para o futuro com otimismo. Além disso, vê a Famerp e o Hospital de Base como pilares importantes no desenvolvimento da medicina, não apenas em Rio Preto, mas também no Brasil e no mundo.
Para ele, a medicina representa mais do que uma profissão; é uma vocação, um caminho que o aproxima do divino e proporciona cura, alívio e consolo àqueles que mais precisam.
Inauguração do ambulatório ‘Prof. Dr. João Roberto Antônio’, em homenagem ao médico
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*Colaborou sob supervisão de Henrique Souza
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