Jovem é morto a tiros durante ação da PM no ES; policiais dispararam mais de 40 vezes e foram afastados

Policiais relataram no boletim que jovem de 20 anos estava armado, não obedeceu ordem de parada e jogou o carro contra os agentes. Nenhuma arma foi encontrada dentro do veículo. Jovem de 20 anos é morto com mais de 40 tiros durante ação policial em Colatina e PM apura
Um jovem de 20 anos foi morto durante uma ação da Polícia Militar na noite de sexta-feira (31), em Colatina, no Noroeste do Espírito Santo. Segundo a corporação, Danilo Lipaus Matos, de 20 anos, não teria obedecido a uma ordem de parada dos policiais e teve o carro atingido por 44 disparos. A vítima morreu no local. A polícia afastou os agentes envolvidos na ocorrência.
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Durante entrevista ao vivo para o Bom Dia Espírito Santo (TV Gazeta) desta segunda-feira (3), o Secretário de Segurança Pública e Defesa Social do estado, Leonardo Damasceno, afirmou que a Corregedoria da Polícia Militar afastou os agentes envolvidos no caso e vai investigar a conduta dos PMs.
A ação da polícia que terminou na morte do vistoriador de veículos começou com uma perseguição e três tentativas de cerco tático.
A PM narrou que o motorista tentou diversas vezes jogar o carro contra os policiais e que ele estaria armado. Por isso, os policiais teriam revidado a agressão. Mas nenhuma arma foi encontrada e o veículo pertencia à vítima.
Danilo Lipaus Matos, de 20 anos, foi morto com mais de 40 tiros em Colatina, Espírito Santo, durante ação policial
Reprodução
O secretário reforçou que o Boletim de Ocorrência da ação é confuso e complexo, mas que independentemente da situação, a orientação para os policiais é de não atirar mesmo quando o condutor furar uma blitz.
“Está expresso no decreto e em normas anteriores que veículos que furam barreiras ou não obedecem sinalização não se usa arma de fogo, salvo se ele estiver atirando ou ameaçando policiais ou terceiros. Essa ocorrência não apresentava esses elementos, por isso, determinamos a apuração. É um Boletim de Ocorrência confuso e complexo que se iniciou com várias ocorrências: roubo de veículo, fuga, perseguição, tiroteio… Então, a prioridade é total na apuração desse caso”, explicou.
Desobedeceu cerco
A Polícia Militar narrou que a ocorrência iniciou acompanhando uma caminhonete com restrição que foi encontrada abandonada e cujos suspeitos teriam fugido.
A primeira informação que chegou para os policiais foi a de que o veículo estava com homens armados que poderiam estar envolvidos em diversos roubos na região de Águia Branca, cidade do Noroeste capixaba.
Durante a ocorrência, foi informado via rádio que uma outra caminhonete havia furado um bloqueio policial em Colatina. Pouco depois, policiais relataram que esse mesmo veículo furou um segundo bloqueio e que o passageiro portava um objeto semelhante a uma arma de fogo.
Danilo Lipaus Matos, de 20 anos, foi morto com mais de 40 tiros em Colatina, Espírito Santo, durante ação policial
Reprodução
Ao tentar interceptar o veículo, a equipe montou um bloqueio com sinais sonoros e luminosos, mas, de acordo com a PM, o condutor jogou o carro em direção às portas da viatura no momento em que os militares desembarcavam. Para impedir a tentativa de atropelamento, os policiais efetuaram disparos. Ainda assim o motorista não obedeceu e fugiu.
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Na fuga, os policiais perderam o veículo de vista. Uma segunda equipe encontrou o carro e deu uma nova ordem de parada. Os agentes relataram, então, que o motorista iniciou uma manobra de ré e fez um retorno brusco. Afirmaram também que viram no banco do carona “um objeto semelhante à arma de fogo no colo”.
Em mais uma fuga, uma terceira equipe da PM fez um novo cerco tático no bairro Aeroporto. Os policiais narraram que deram ordem de parada utilizando sinais sonoros e luminosos, mas que o condutor ignorou as determinações e avançou com o carro contra os policiais.
Foi esse o momento em que o sargento Renan Pessimílio e o soldado Eduardo Nardi Ferrari desceram do carro e atiraram.
“Diante da ameaça iminente, os militares efetuaram disparos contra o veículo. Durante a abordagem, foi constatado que o motorista havia sido atingido. O Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) foi acionado e constatou o óbito no local. A perícia foi acionada”, afirmou em nota a Polícia Militar.
O Boletim de Ocorrência da PM apontou que 44 tiros foram efetuados durante toda a ocorrência: 15 pelo sargento Renan, 15 pelo soldado Eduardo, 12 pelo cabo Rodrigo de Jesus Oliveira e dois pelo soldado Ramon Lucas Rodrigues Souza.
Após a chegada do Samu, a Carteira Nacional de Habilitação (CNH) da vítima foi encontrada dentro do carro, assim como um celular. O jovem morreu no local.
O g1 procurou o Ministério Público para saber mais detalhes sobre o caso, mas não teve nenhum retorno até a última atualização da reportagem.
Jovem ia começar a faculdade
Danilo Lipaus Matos, de 20 anos, foi morto com mais de 40 tiros em Colatina, Espírito Santo, durante ação policial
Reprodução
O pai da vítima, Josenildo Monteiro Matos, contou que o filho pode ter desobedecido à ordem de parada por medo de perder a carteira. Afirmou, ainda, que tinha dado o carro de presente para ele. Por isso, o veículo não tinha restrição como o outro carro que a polícia inicialmente estaria indo atrás.
“O carro era dele, estava no nome dele, não tinha nenhuma restrição. Eu comprei em 2013. Cercaram o meu filho e deram mais de 40 tiros. Não tinha nada no carro dele, não encontraram nada com ele”, pontuou o pai.
O jovem iria começar a faculdade nesta segunda-feira (3). Emocionado, o pai pediu justiça.
“Meu filho era maravilhoso, um menino trabalhador, ia iniciar a faculdade de Radiologia na segunda-feira (hoje). Ele saiu para se divertir e eu só fiquei sabendo no sábado de manhã que tinham matado meu filho. Não tiveram nem a coragem de avisar”, desabafou o pai.
Policiais afastados
A Secretaria de Segurança Pública do Espírito Santo (Sesp) determinou o afastamento dos policiais envolvidos na abordagem e disse que o caso também será investigado pela Corregedoria da PM. O secretário afirmou que o Ministério Público também acompanha o caso.
“Eles vão trabalhar em serviços internos nesse período em que faremos um trabalho rigoroso de apuração. Isso merece uma resposta. O Danilo não estava armado, estava sozinho no veículo e tivemos essa quantidade de disparos. A família do jovem vai ser ouvida, os policiais também, e nós vamos seguir os prazos legais das investigações. Não é uma investigação tão complexa assim, os policiais foram identificados, quem efetuou os disparos. A perícia já foi feita”, apontou o secretário.
O secretário explicou ainda quais são as regras em casos de desobediência da ordem de parada policial, e que o uso da força é uma questão repassada em treinamentos policiais.
“Nós temos algumas regras e prezamos muito pelo treinamento policial e o uso diferenciado da força. Na academia de polícia, todos os policiais passam por treinamentos rotineiros. A gente lamenta a perda de uma vida, de um jovem trabalhador. Portanto, o estado tem que dar uma resposta rápida e isenta”, declarou.
Danilo Lipaus Matos, de 20 anos, foi morto com mais de 40 tiros em Colatina, Espírito Santo, durante ação policial
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