Tragédia em silo no interior do Paraná: imagens exclusivas mostram explosão em armazém

Especialistas explicam como a poeira de grãos, em um ambiente fechado, pode provocar um acidente de grandes proporções como o que ocorreu em Palotina, no interior do Paraná, que matou oito pessoas. Tragédia em silo no interior do Paraná: imagens exclusivas mostram explosão em armazém
Reprodução
O Fantástico traz imagens exclusivas da explosão num armazém de grãos, em Palotina, interior do Paraná. Especialistas explicam como a poeira de grãos, num ambiente fechado, pode provocar um acidente de grandes proporções.
Câmeras de segurança da cooperativa C. Vale registraram a explosão em armazéns da empresa na tarde da quarta-feira (26).
A vizinhança sentiu o impacto do deslocamento de ar. Como em um bar, que fica na rua ao lado.
Um escritório de arquitetura que fica a cerca de dois quilômetros da C.Vale tremeu no momento da explosão.
Casas na rua ao lado da cooperativa foram danificadas. “Foi como que se o mundo tivesse acabado”, diz a dona de casa Maria Rosane Teixeira Góes. “Eu vi aquele estrondo. Daí quando eu saí lá pra fora, que eu vi a… o estrago que tinha feito.”
Um vão aberto entre a parede e o piso. A moradora de outra na casa na mesma rua diz que o impacto quebrou uma janela, rachou uma parede e ainda arrancou outra janela.
“O melhor é que graças a Deus foi bens materiais, e que não tinha ninguém em casa na hora que aconteceu”, diz a cozinheira Marta Assis Magalhães.
Um vídeo registra quatros estrondos. Mas por enquanto a Polícia Científica do Paraná trabalha com a hipótese de uma única explosão.
“É como se fosse uma explosão em mais de uma etapa”, diz o perito Lennon Biancato Ruhnke. “O som, ele se propaga no ar e reflete nas construções, então a gente não pode se basear na evidência do barulho pra saber o número de explosões.”
Vídeos inéditos mostram os bombeiros procurando e resgatando vítimas.
“Travou a escada?”, diz alguém.
Imagens mostram trabalhador haitiano orientando os Bombeiros.
“É o Kana que está falando.”
Kâna fala com Donald, colega preso nos escombros. Donald diz que tem mais trabalhadores com ele.
“Três. Tem três.”
“Perto dele?”
“É”
“Vivo?”
“Vivo.”
O haitiano Donald Sân Cir foi resgatado com vida, mas morreu no hospital. Ele tinha 24 anos e trabalhava na C. Vale.
Dos oito mortos, sete eram haitianos. Todos estavam legalmente no Brasil.
O primo de um deles, que trabalha pra C.Vale mas estava de folga, diz que o local era seguro.
“Eles deram muita atenção, muitos treinamentos para que o estrangeiro consegue tipo aprender o trabalho deles mesmo, sabe? Eles tipo foca muito sobre a segurança no trabalho”, diz Cosner Meritus, primo de Jean Michee Joseph.
Cosner diz que o primo Jean tinha um plano pro futuro.
“Ele fazia de tudo para sustentar da família. Ele tava tipo trabalhando, guardando um pouco para ele poder tipo ir no outro país, tipo na Europa, França, porque tem bastante parente lá.”
As equipes ainda buscam pelo corpo de uma vítima, desaparecida desde o acidente. O corpo pode ter sido soterrado pelos grãos.
Onze trabalhadores foram resgatados com vida, entre eles Fernando Mota Cardoso.
“Só escutei o estouro, depois… acordei no chão, deitado”, diz Fernando.
Em uma foto, ele aparece desmaiado sobre os escombros. Teve trauma abdominal e ainda permanece internado sem previsão de alta.
Na área do acidente estão quatro armazéns de grãos com capacidade entre 4 mil e 45 mil toneladas de soja e milho. Os corpos das vítimas foram encontrados na parte da frente e na de trás dos armazéns.
“Esses corpos começaram a ser encontrados na madrugada, né? E começaram a chegar ao Instituto Médico-Legal a partir das cinco horas da manhã, quatro horas da manhã, aproximadamente”, diz a Ana Libera Weber, papiloscopista da Polícia Civil.
Os peritos acreditam que o epicentro da explosão tenha sido em um ponto determinado.
“A maior destruição que a gente identificou até agora foi entre os barracões três e quatro, então a gente entende que pode estar nessa região’, diz o perito criminal Lennon Biancato Ruhnke.
A Polícia Científica do Paraná está usando tecnologia 3D e raios laser que consegue captar imagens inclusive de locais que ainda oferecem perigo.
“Então a gente consegue tirar medidas com isso, né? Sem precisar chegar pessoalmente nesses locais que geram risco pra gente entender, tanto a dinâmica, né?, do que aconteceu, quanto os impactos”, diz o perito Ruhnke.
Um vídeo vídeo feito pelos Bombeiros dá uma ideia da complexidade da operação de resgate. Esse tipo de vídeo serve de instrução para futuras operações da corporação em armazéns e silos.
“Nos túneis, tiramos cinco vítimas em óbito. Retiramos por essa saída aqui’, explica.
Empresas do ramo usam esteiras que transportam os grãos por túneis subterrâneos.
O professsor Adriano Afonso Lima, da Univeridade Estadual do Oeste do Paraná, explica que um grão como o milho é naturalmente inflamável e a poeira formada pelos grãos pega fogo mais facilmente num ambiente fechado como o dos túneis de grãos, que tendem a formar muita poeira.
Ao ser movimentado, ele vai quebrando e vai gerando essas partículas. Então essas partículas em suspensão, ele funciona como se fosse um combustível gasoso.
O professor faz uma demonstração usando farinha comum. A chama da vela simula qualquer equipamento ou então qualquer ação humana que possa provocar uma faísca dentro do túnel dos grãos. E o tubo é pra ele soprar, pra que a farinha fique suspensa como se fosse a poeira dos grãos no ar, dentro do recipiente que é fechado como os túneis da indústria também são.
Quando o professor sopra, o repórter toma susto. ” Além do calor, a pressão do ar, a gente sente na pele”, diz.
“Quando a gente trabalha dentro de uma unidade armazenadora, você tem vários equipamentos que movimentam, tá? E esses equipamentos que movimentam, eles têm partes mecânicas que podem ocasionalmente gerar faísca”, diz o professor.
Um vídeo cedido pelo professor mostra faíscas acidentais numa esteira de grãos. “Se nós pensarmos no universo que nós temos de unidade armazenadoras no Brasil, esse incidente que ocorreu é atípico. Existem dispositivos de captadores de poeira dentro desses ambientes confinados, nós temos sistemas de ventilação, nós temos sensores que são instalados nos equipamentos pra evitar aquecimento, por exemplo, de rolamentos.”
Em nota, a C. Vale afirma que está custeando despesas hospitalares das vítimas e de locomoção, hospedagem e alimentação dos familiares, além da contratação de cuidadores para as famílias que têm filhos pequenos. A empresa diz ainda que cumpre todas as normas de segurança no trabalho e as vistorias estavam em dia e que, se constatados danos em consequência da explosão, vai ressarcir moradores prejudicados.
A Polícia Civil abriu uma investigação sobre o acidente.
“Ou uma falha humana ou uma falha material ou até um agente externo que não era previsto naquele ambiente”, diz o delegado da Polícia Civil Rodrigo Baptista Santos. “Primeiramente foi ouvido o gerente de medicina do trabalho da empresa. Ele nos afirmou que todos os alvarás e todos os equipamentos de segurança e treinamento aos funcionários que estavam rigorosamente cumpridos.”
O Ministério Público do Trabalho informa que abriu investigação para apurar as circunstâncias e causas do acidente.
“Perdi amigos próximos. Os haitianos, tinha convivência com eles todos os dias”, diz Fernando. “Cada vez, se você puder olhar pro outro, pro seu amigo, falar que eu te amo, seria bom. Porque pode ser uma última vez que você vê essa pessoa”, diz Cosner Meritus.
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