Entenda por que a Faixa de Gaza é tão disputada pelos países

As recentes declarações do presidente dos EUA, Donald Trump, sobre a Faixa de Gaza e a retirada de palestinos do território, demostraram o interesse americano pelo território, já expressado anteriormente pelo republicano.

Trump afirmou que “os EUA assumirão” o local e acrescentou que “as mesmas pessoas não deveriam estar encarregadas de reconstruir e ocupar a terra”.

O presidente também disse que “os palestinos não têm alternativa a não ser deixar Gaza” e gostaria de ver “os países vizinhos, Jordânia e Egito, acolherem os palestinos deslocados”.

As falas foram feitas após uma reunião do presidente americano com o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, na terça-feira (4), na Casa Branca.

Entenda o território da Faixa de Gaza – um dos mais densamente povoados do planeta


Mapa mostra a região de Israel e Faixa de Gaza no Oriente Médio.

O local

Gaza é uma estreita faixa de terra, com cerca de 40 quilômetros de comprimento e 11 de largura – pouco mais que o dobro do tamanho de Washington DC.

A oeste fica o Mar Mediterrâneo, ao norte e leste fica Israel, e o Egito fica ao sul.

É um dos dois territórios palestinos, sendo o outro a maior Cisjordânia ocupada por Israel, que faz fronteira com a Jordânia.

Habitantes

Cerca de dois milhões de pessoas habitam o território. A maioria é jovem, com 50% da população com menos de 18 anos, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS).

Quase todos os habitantes de Gaza — 98-99% — são muçulmanos, conforme o CIA World Factbook, com a maioria dos demais cristãos.

Mais de um milhão de moradores são refugiados, com oito campos de refugiados palestinos reconhecidos, segundo a Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados e Obras, que auxilia os palestinos.

A história de Gaza

Habitada por milhares de anos, Gaza já foi muitas coisas: base egípcia, cidade real para os filisteus e o lugar onde o hebreu Sansão, traído por Dalila, encontrou a morte.

Foi parte do Império Otomano durante a maior parte do período do século XVI ao início do século XX, até que a Grã-Bretanha assumiu o controle da área após a Primeira Guerra Mundial.

A disputa mais recente pela terra começou no final da Segunda Guerra Mundial, quando judeus fugindo da perseguição viajaram da Europa em busca de refúgio após os horrores do Holocausto.

Em 1947, a ONU criou um plano para dividir o então Mandato Britânico da Palestina em duas terras, uma para os judeus e outra para o povo árabe.

David Ben Gurion, fundador de Israel, proclamou o estabelecimento do estado israelense em 1948. Mais de 700 mil palestinos fugiram ou foram expulsos, e a maioria teve o retorno negado.


David Ben-Gurion (1886 – 1973) fundador de Israel • Keystone/Getty Images

Após Israel declarar independência, o Egito atacou o país por meio da Faixa de Gaza.

Os israelenses venceram, mas Gaza permaneceu sob o controle egípcio e a região viu um influxo de refugiados palestinos de Israel. Incapazes de migrar para o Egito e sem permissão para retornar para suas antigas casas, muitos estavam vivendo em extrema pobreza.

Em 1967, a guerra eclodiu entre Israel, Egito, Jordânia e Síria. Durante o conflito, que ficou conhecido como Guerra dos Seis Dias, Israel tomou Gaza e a manteve por quase 40 anos até 2005, quando retirou suas tropas e colonos.

Desde então, as hostilidades eclodiram regularmente entre Israel e facções palestinas, incluindo o Hamas.

Quem controla Gaza agora?

Em 2006, o Hamas obteve uma vitória esmagadora nas eleições legislativas palestinas – as últimas eleições realizadas no território.

O Hamas é uma organização islâmica com uma ala militar que se formou em 1987, surgindo da Irmandade Muçulmana, um grupo islâmico sunita fundado no final da década de 1920 no Egito.

O grupo considera Israel um estado ilegítimo e uma potência ocupante em Gaza. Ao contrário de outros grupos palestinos, como a Autoridade Palestina, o Hamas se recusa a se envolver com o governo israelense.

O Hamas assumiu a responsabilidade por muitos ataques a Israel ao longo dos anos e foi designado como uma organização terrorista por países como os Estados Unidos, União Europeia e Israel. A última guerra entre o Hamas e as forças israelenses foi em 2021, que durou 11 dias e matou pelo menos 250 pessoas em Gaza e 13 em Israel.

Um dos maiores financiadores do grupo é o Irã, segundo o Departamento de Estado dos EUA, que afirmou em um relatório de 2021 que o governo iraniano fornece cerca de US$ 100 milhões por ano ao Hamas, entre outros “​​grupos terroristas palestinos”.

O grupo também recebe armas e treinamento do Irã, bem como alguns fundos levantados em países árabes do Golfo, relatou o Departamento de Estado.

Quando o bloqueio de Israel começou?

Apesar da retirada de Israel de Gaza, desde 2007 ele tem mantido um controle rígido sobre o território por meio de um bloqueio terrestre, aéreo e marítimo. Por quase 17 anos, a região tem sido quase totalmente isolada do resto do mundo, com severas restrições à movimentação de bens e pessoas.

O bloqueio foi duramente criticado por órgãos internacionais, incluindo a ONU, que analisou em um relatório de 2022 que as restrições tiveram um “impacto profundo” nas condições de vida no território e “prejudicaram a economia de Gaza, resultando em alto desemprego, insegurança alimentar e dependência de ajuda”.

Israel disse que o bloqueio é vital para proteger seus cidadãos do Hamas.

“Os israelenses temiam que, sem um bloqueio, o grupo teria uma abordagem mais fácil para contrabandear armas, para se armar”, disse Bilal Saab, membro sênior e diretor fundador do programa de defesa e segurança do Middle East Institute.

Embora, ele falou à CNN, “francamente, não tenha feito um trabalho muito bom, dada a enorme infraestrutura de túneis que a organização construiu ao longo dos anos”.


Sul da Faixa de Gaza.
Sul da Faixa de Gaza. • REUTERS

Como são as condições de vida?

Mesmo antes dos ataques do Hamas e da retaliação de Israel em Gaza, as condições de vida no local eram terríveis.

A Human Rights Watch chamou o território de “prisão a céu aberto” — os moradores têm acesso limitado a assistência médica, educação e oportunidades econômicas.

Os níveis de desemprego estão entre os mais altos do mundo, com quase metade da população desempregada, conforme dados da ONU de 2022.

Mais de 80% vivem na pobreza. “Por pelo menos a última década e meia, a situação socioeconômica em Gaza tem estado em declínio constante”, declarou a UNRWA na época.

“Além dos números, os profissionais de saúde mental no local descrevem uma crise que passa despercebida”, afirmou Tania Hary, diretora-executiva da Gisha, uma organização israelense de direitos humanos que se concentra na liberdade de movimento dos palestinos.

Ainda há esperança, falou Hary à CNN: “Apesar dessas estatísticas terríveis, Gaza também tem oito universidades e várias outras faculdades, uma pequena, mas boa indústria de manufatura, empreendedores em uma variedade de campos e fazendeiros inovadores e resilientes.”

No entanto, as condições se tornaram exponencialmente piores desde que Israel declarou um “cerco completo” ao território em retaliação aos ataques do Hamas, retendo suprimentos essenciais de comida, combustível e água.

A vida se tornou ainda mais perigosa para os 1,1 milhões de habitantes que vivem no norte da área, quando as Forças de Defesa de Israel disse a eles para se deslocarem para o sul, levando os trabalhadores humanitários a alertarem sobre uma “catástrofe completa”.

O Programa Mundial de Alimentos da ONU anunciou que estava “ficando sem suprimentos” para ajudar as pessoas em Gaza.

Voos de ajuda chegaram ao Egito perto da passagem de Rafah na fronteira sul, mas apenas alguns comboios foram autorizados a entrar no local.

Enquanto isso, mesmo com o recente acordo de cessar-fogo, o número de mortos aumenta.

Este conteúdo foi originalmente publicado em Entenda por que a Faixa de Gaza é tão disputada pelos países no site CNN Brasil.

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