Alvo de Trump, Faixa de Gaza pode ter reservas de gás e petróleo não exploradas, diz estudo


Especialistas ouvidos pelo g1 dizem, porém, que interesse do presidente americano na região tem mais motivos geopolíticos que financeiros. Estudos indicam presença de minerais em Gaza, mas nada foi comprovado com exploração ainda. Ao lado de Netanyahu, Trump diz que os EUA vão ‘assumir’ a Faixa de Gaza
Alvo do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, a Faixa de Gaxa pode estar cheia de reservas de petróleo e gás, assim como outros países do Oriente Médio.
Um levantamento de 2019 da Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (UNCTAD, na sigla em inglês) afirma que o território palestino ocupado (que corresponde à parte da Cisjordânia e à costa mediterrânea da Faixa de Gaza) está acima de reservatórios com quantidades significativas de combustíveis.
Os cálculos da UNCTAD são de que as reservas de petróleo gerariam cerca de US$ 71 bilhões à região, se fossem exploradas. O montante proveniente das reservas de gás natural é ainda maior: US$ 453 bilhões, totalizando US$ 524 bilhões não aproveitados.
A pesquisa conclui que, se essas reservas fossem exploradas pela região palestina, os valores seriam capazes de “promover a paz e a cooperação entre antigos beligerantes”.
Especialistas ouvidos pelo g1, porém, acreditam que a relevância das reservas de petróleo em Gaza para o mundo ainda não é tão expressiva e as motivações de Trump são mais geopolíticas que financeiras.
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Helder Queiroz, professor da UFRJ, considera que as reservas de petróleo em Gaza são “irrelevantes” e que o interesse de Trump na região é o “objetivo de expansão dos espaços de poder dos EUA”.
Trump chamou a atenção do mundo inteiro nos últimos dias ao sugerir que o país deve assumir o controle e se tornar “dono” da Faixa de Gaza — região devastada por ações militares de Israel, que está em confronto com o grupo terrorista Hamas.
A declaração de Trump foi feita na noite desta terça-feira (4), ao lado do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu e foi mal recebida por países árabes, europeus e até por aliados políticos dos EUA.
Mesmo com as reações negativas, Trump voltou a defender a ideia de que Israel deve “entregar Gaza aos EUA” para que o país possa construir “um dos empreendimentos mais espetaculares da Terra” nesta quinta-feira (6).
Uma das hipóteses ventiladas é de que Trump gostaria de transformar a região em um resort de praia internacional sob o controle dos EUA, uma ideia lançada por seu genro Jared Kushner há um ano. Mas há quem aponte as reservas de petróleo e gás como motivação oculta.
Segundo o estudo da UNCTAD, o estoque de petróleo na região palestina é estimado em 1,7 bilhões de barris. Elas não são tão expressivas quando comparadas, por exemplo, com a Venezuela, que possui as maiores reservas de petróleo do mundo e tem estimativas que passam dos 300 bilhões de barris.
Já as reservas de gás natural são mais expressivas, de acordo com João Victor Marques, pesquisador da FGV Energia.
A UNCTAD estima que esses reservatórios contenham 3,46 trilhões de m³. A Rússia, que possui as maiores reservas de gás natural do mundo, tem 47,2 trilhões de m³, de acordo com um relatório da Agência Nacional de Petróleo (ANP).
O Oriente Médio responde por 39,8% do total de reservas de gás conhecidas, por isso há a expectativa de que a Faixa de Gaza também possua um volume importante desses recursos. No entanto, Marques destaca que os números são apenas estimativas e ainda não foi possível comprovar o potencial da região.
Para o pesquisador, as possíveis reservas energéticas da Faixa de Gaza podem estar no radar de Trump, “mas não parecem ser o objetivo principal quando ele fala sobre assumir a região”.
“É muito mais uma das grandes demonstrações de agressividade do Trump, como recentemente ele fez com Panamá, com a Groenlândia e com as taxas de importação, como uma estratégia de negociação, usando o peso econômico e político dos EUA para conseguir vantagens para o país”, conclui o fundador do Instituto Global Attitude Rodrigo Reis.
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