História de professor do DF morto por reprimir drogas em escola pública é lembrada 16 anos depois do crime


Carlos Mota foi assassinado a tiros, no Lago Oeste, em Brasília. Escola ganhou nome do educador. Professor Carlos Morta foi assassinado em 2008
Reprodução/Arquivo pessoal
Era junho de 2008 quando o professor Carlos Mota foi morto com um tiro, dentro de casa, na região do Lago Oeste, em Brasília. À época, ele era diretor de uma escola pública – que hoje leva o seu nome – onde desenvolvia atividades de combate às drogas.
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A morte do educador teria sido motivada por vingança. De acordo com a denúncia do Ministério Público, Gilson de Oliveira, condenado a 20 anos de prisão por ser o mandante do crime, traficava drogas no local e assediava os alunos do colégio.
Um levantamento global da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), aponta que o Brasil está entre os países do mundo com índices mais altos no ranking de violência contra professores (saiba mais abaixo).
O documentário “Carlos Mota – entre arquivos e lembranças” resgata a história de quem foi o pai, educador e líder comunitário que morreu lutando por uma causa e acreditando no que fazia. O filme foi feito por Otavio Mota, de 25 anos, filho de Carlos. Na época do crime, ele tinha apenas 8 anos.
“A minha ideia com esse documentário é debater justamente como nós, enquanto sociedade, tratamos a memória de educadores e educadoras brasileiros”, explica Otavio.
Ao g1, Otávio contou que perguntou para alguns alunos da escola se sabem quem foi Carlos Mota. “A maioria falou que sabia ‘mais ou menos’, ou não sabia”, diz ele.
Quem foi Carlos Mota
Quem foi o professor Carlos Mota, morto em 2008 por combater drogas em escola – Reprodução/Documentário “Carlos Mota – entre arquivos e lembranças”
Carlos Ramos Mota morreu aos 44 anos, deixando a esposa e dois filhos. A escola em que ele era diretor, antes chamada de Centro de Ensino Fundamental Lago Oeste (CEFLO), foi renomeada como Centro Educacional Carlos Ramos Mota (CED Carlos Mota).
“A gente percebia que ele nasceu para isso, como se fosse mesmo uma missão. […] Ele acreditava que a educação era um todo, não era só dentro da sala de aula. A educação era fora da sala de aula, era com os animais, era com a natureza”, diz Rita de Cássia, viúva do professor.
Para Adilvan de Souza, ex-aluno de Carlos Mota (veja fotos abaixo), o legado do professor reverbera até hoje.
“Aqui no Lago Oeste impactou demais. Diversas crianças, assim como eu, se formaram como pessoas melhores com aquele ensino que a gente teve”, diz Adilvan.

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Dados de violência e a ‘Lei Carlos Mota’
Segundo um levantamento global da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), semanalmente, 10% das escolas brasileiras pesquisadas registraram episódios de intimidação ou abuso verbal contra educadores, com “potenciais consequências para o bem-estar, níveis de estresse e permanência deles na profissão”.
📌 Para se ter uma ideia, a média internacional registrada foi de 3%.
A pesquisa é de 2019, mas reflete uma realidade que não parece ter mudado para os educadores brasileiros.
Professor Carlos Mota foi assassinado em 2008 por combater drogas em escola – Reprodução/Documentário “Carlos Mota – entre arquivos e lembranças”
Em 2023, segundo o Ministério dos Direitos Humanos, o canal de denúncias Disque 100 recebeu mais de 1,2 mil casos em que professores foram vítimas de violência nas escolas.
Em 2009, após o assassinato do professor Carlos Mota, foi criado um Projeto de Lei (PL) que visava estabelecer medidas protetivas e jurisdicionais para professores que sofressem ameaças em decorrência de sua atuação nas escolas.
No entanto, o PL 191/2009, também conhecido como “Lei Carlos Mota”, de autoria do senador Paulo Paim (PT-RS), foi arquivado em 2018. Procurado pelo g1, o senador disse que pretende colocar o texto de volta à tramitação.
“Esse foi um caso emblemático, até porque eu não queria acreditar que um educador fosse morto porque ele estava educando”, disse Márcio Michel, delegado do caso Carlos Mota em 2008, ao documentário ‘Carlos Mota – entre arquivos e lembranças’ (veja vídeo acima).
‘Heróis não devem morrer pra ser heróis, mas ele morreu’
Professor Carlos Mota com o filho Otavio no colo
Reprodução
O acusado de ser o mandante da morte de Carlos Mota foi condenado a 20 anos de prisão por homicídio duplamente qualificado, por motivo torpe (vingança) e por dificultar a defesa da vítima. À época, o juiz do caso, Aragonê Nunes Fernandes, afirmou na sentença que os agravantes foram considerados pelo impacto da morte na comunidade escolar.
“Eu me lembro do dia que aconteceu. Heróis não devem morrer pra ser heróis, mas ele morreu.”, diz o morador do Lago Oeste Marcos Santarosa no documentário.
Para Otavio, filho de Carlos Mota, o documentário foi uma oportunidade para conhecer melhor o pai. Um lado dele ele teve a oportunidade de encontrar quando era pequeno.
“Pra mim foi uma sensação de alívio poder conhecer o meu pai de novo. Diminuiu um pouco o tamanho do buraco que ficou no peito com a ausência dele”, disse Otavio, ao g1.
Parede da escola Centro de Ensino Carlos Mota
Reprodução/Documentário ‘Carlos Mota – entre arquivos e lembranças’
▶️ O documentário está disponível no Youtube e pode ser assistido aqui.
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