Reflorestamento, obras e alertas de emergência: saiba o que mudou na Vila Sahy dois anos após a tragédia de São Sebastião, SP


A vila localizada na Barra do Sahy ficou devastada e foi o epicentro da tragédia provocada pelas chuvas históricas que deixaram 64 mortos em São Sebastião no carnaval de 2023. VIla do Sahy na época do temporal e atualmente.
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A chuva histórica que devastou a Vila Sahy, em São Sebastião, no Litoral Norte de São Paulo, durante o carnaval de 2023, completou dois anos nesta quarta-feira (19).
No dia 19 de fevereiro daquele ano, a maior chuva já registrada no Brasil deixou 64 mortes e um rastro de destruição na cidade (leia um resumo do caso aqui)
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Embora o local ainda seja lembrado pela tragédia – principalmente por aqueles que perderam parentes e amigos na ocasião -, os sinais de destruição na Vila Sahy atualmente são muito menores se comparado ao ano passado, quando a tragédia completou um ano.
A principal evidência disso está nas encostas da Serra do Mar que cercam a vila – as chuvas deixaram 851 cicatrizes nos morros, mas, hoje, elas são minoria.
Com um trabalho de reflorestamento, agora há muito mais verde da vegetação do que o marrom dos deslizamentos de terra que destruíram a região durante o temporal. (veja o “antes” e o “depois’ acima)
Segundo a Fundação Florestal, a evolução da paisagem foi possível por conta de duas medidas. Uma delas usou drones para lançar cápsulas biodegradáveis com espécies de árvores nativas da Mata Atlântica sobre a vegetação destruída.
Drone replanta árvores em áreas onde houve deslizamentos em São Sebastião
Dovulgação/Ambipar
A outra é chamada de hidrossemeadura, que consiste no jateamento de uma mistura de sementes, fertilizantes e água sobre as encostas. De acordo com a Fundação Florestal, a ação ainda não está 100% concluída, mas perto disso.
Todo o trabalho foi feito junto com a comunidade, com o objetivo de restaurar cerca de 200 hectares de vegetação que foram desmatados na tragédia. Além disso, o desenvolvimento das espécies ajuda a evitar novos escorregamentos.
Encostas da Serra do Mar na Vila Sahy, em São Sebastião, praticamente não apresentam mais cicatrizes após tragédia
Reprodução/TV Vanguarda
Na época da tragédia, as encostas da Serra do Mar, em São Sebastião, ficaram cheias de cicatrizes
Reprodução/TV Globo
Moradores mais seguros
Os moradores da Vila Sahy afirmam que se sentem mais seguros desde que diversas obras foram realizadas como medidas de prevenção a novas tragédias.
Presidente da Associação de Moradores da Vila Sahy (Amovila), João Bosco de Oliveira é do Ceará, mas mora na região há 29 anos. Ele é uma das pessoas que aparecem no vídeo abaixo tentando sobreviver em meio a uma enxurrada provocada pela chuva na época – assista:
De acordo com ele, os moradores da vila estão mais otimistas e pareceram estar finalmente reencontrando a felicidade depois de dois anos com o trauma muito presente na vida de cada um.
“Acho que estamos reaprendendo a viver depois de perdermos tantas pessoas. A gente vê que com as obras de contenção a água flui melhor quando chove e isso tem deixado as pessoas mais confiantes e prontas para se reconstruírem. Ainda tem gente em área de risco, mas nos sentimos muito mais seguros”, disse.
Imagens mostram mar de lama avançando sobre casas em São Sebastião (SP)
Segundo a Prefeitura de São Sebastião, foram investidos R$ 245 milhões na Vila Sahy desde a tragédia. Um dos principais serviços realizados foi o sistema de drenagem e a instalação de barreiras flexíveis.
Em relação ao sistema de drenagem, um túnel subterrâneo foi construído com chapas de aço para dar vazão às águas pluviais da Vila Sahy em direção ao Rio Sahy.
Já as barreiras, que têm mais de 3 mil metros quadrados, servem para conter o avanço de materiais como rochas, cascalhos, lodos e sedimentos, que formam os deslizamentos de terra.
Também foram construídas galerias de águas pluviais e estruturas de contenção que permitem o escoamento seguro das águas das encostas da Serra do Mar.
Obras para contenção das chuvas na Vila Sahy, em São Sebastião
Reprodução/TV Vanguarda
Tecnologia
Além das obras, a tecnologia também auxilia na prevenção de novas tragédias, ajudando as autoridades a tomarem medidas quando a previsão do tempo aponta para a possibilidade de desastres naturais.
Ainda em 2023, a Defesa Civil de São Paulo instalou uma sirene para alerta de temporais na Vila Sahy, em São Sebastião. Em 2024, um radar foi instalado em Ilhabela, que também fica no Litoral Norte, e fornece dados meteorológicos sobre a condição do clima na região.
SP instala primeira sirene para alertar sobre temporais na Vila Sahy, em São Sebastião
Defesa Civil/Divulgação
Os dados são enviados ao Centro de Meteorologia (IPMet) da Faculdade de Ciências da Unesp, que processa o levantamento e, em seguida, o compartilha com a Defesa Civil, responsável pela emissão de alertas à população, inclusive pela sirene.
Também está em funcionamento o ‘cellbroadcast’, que foi testado na Vila Sahy e é um sistema de alertas de emergência de desastres. Os alertas são enviados por meio de notificações aos celulares das pessoas em áreas consideradas de risco para chuvas. Além do alerta, a ferramenta é capaz de informa locais para evacuação e pontos seguros.
Radar meteorológico posicionado no lado leste de Ilhabela, no litoral norte de SP
ACI/Unesp
Moradias
Dezenas de casas da Vila Sahy desapareceram no meio da lama das chuvas e dos deslizamentos de terra ocorridos em 2023, em São Sebastião. Além disso, outras centenas foram demolidas por conta da estrutura afetada. Assim, mais de 3 mil pessoas ficaram desabrigadas ou desalojadas na ocasião.
Desde então, a Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano (CDHU) de São Paulo inaugurou 704 moradias, sendo 518 no bairro Baleia Verde e 186 no bairro Maresias.
Outras 256 unidades habitacionais estão em obras na região da Topolândia. A previsão é que a entrega aconteça no ano que vem. Também há uma análise para a construção de mais 500 unidades no Litoral Norte de SP, sendo 300 em São Sebastião e 200 em Caraguatatuba.
Um ano após tragédia, 518 moradias são entregues para vítimas de chuva em São Sebastião
TV Vanguarda/Reprodução
Mesmo assim, ainda há moradores nas áreas de risco da Vila Sahy. Segundo a Prefeitura de São Sebastião, está em andamento um trabalho de atualização do Plano Municipal de Redução de Riscos (PMRR), feito pelo Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT).
O documento completo será entregue em março deste ano, mas, uma análise preliminar mapeou 80 setores que merecem atenção na cidade, sendo que dois estão classificados como ‘risco muito alto’ e 36 são considerados de ‘risco alto’. Outros 42 setores são classificados como ‘setor de monitoramento’, de acordo com a gestão.
Memorial relembra vítimas da tragédia na Vila Sahy
Vila Sahy, em São Sebastião
Reprodução/TV Vanguarda
Imagem de arquivo – Buscas por desaparecidos em meio à lama de um deslizamento que derrubou casas na Vila do Sahy, em São Sebastião
Fábio Tito/g1
Encostas da Serra do Mar na Vila Sahy, em São Sebastião, praticamente não apresentam mais cicatrizes após tragédia
Reprodução/TV Vanguarda
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