Venda das joias, Bolsonaro golpista, dinheiro em caixa de vinho: os principais pontos da delação de Mauro Cid

A delação do tenente-coronel Mauro Cidministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes. O ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro revelou informações cruciais sobre esquemas envolvendo o ex-presidente. O sigilo da delação foi derrubado nesta quarta-feira (19) por Moraes, permitindo que o conteúdo viesse a público.
Os termos da delação
Mauro Cid firmou um acordo de delação premiada com a Polícia Federal, revelando detalhes comprometedores sobre Bolsonaro e seu círculo próximo.
Em troca de sua colaboração, Cid pediu que suas condenações fossem reduzidas ou limitadas a dois anos de prisão, que seus bens apreendidos fossem devolvidos e que sua segurança e a de sua família fossem garantidas. O acordo também previa que os benefícios fossem estendidos ao pai, à esposa e à filha mais velha do delator.
O STF alertou que os benefícios só serão concedidos caso as informações fornecidas por Cid sejam confirmadas e que qualquer violação do acordo resultará na perda das vantagens. Em novembro de 2024, inconsistências foram apontadas na delação, levando Cid a prestar novos esclarecimentos para evitar o cancelamento do pacto.
Como contrapartida, Cid se comprometeu a contar a verdade sobre todos os crimes que praticou ou presenciou, auxiliar a Polícia Federal na análise de provas e afastar-se de qualquer atividade criminosa. Ele também se comprometeu a relatar se for contatado por qualquer investigado.
A lei brasileira estabelece que, mesmo que o delator descumpra o acordo, as informações prestadas continuam válidas para a Justiça. Assim, as declarações de Mauro Cid já estão sendo utilizadas em inquéritos e processos contra os envolvidos.
O dinheiro das joias
Mauro Cid relatou que ele e seu pai, o general da reserva Mauro Lourena Cid, repassaram um total de US$ 78 mil (cerca de R$ 445 mil) a Jair Bolsonaro entre 2022 e 2023, após a venda de joias recebidas pelo então presidente.
Os repasses ocorreram em quatro ocasiões: US$ 18 mil foram entregues por Mauro Cid no Brasil, em junho de 2022; US$ 30 mil foram repassados por Lourena Cid em Nova York, em setembro do mesmo ano; US$ 10 mil foram entregues no Brasil, no fim de 2022; e US$ 20 mil foram entregues em mãos a Osmar Crivelatti, assessor de Bolsonaro, em Miami, em fevereiro de 2023.
Os valores provinham da venda de joias dadas a Bolsonaro pelo governo da Arábia Saudita. Cid relatou que, ao viajar aos EUA para negociar parte das peças, retirou do valor final os gastos com passagens e aluguel de carro antes de repassar os fundos ao ex-presidente.
Tanto os US$ 30 mil quanto os US$ 10 mil entregues por Lourena Cid foram passados a Mauro Cid, que os repassou a Bolsonaro. Já os US$ 20 mil foram entregues diretamente a Osmar Crivelatti, assessor de Bolsonaro.
As declarações de Cid reforçam a investigação que já levou ao indiciamento do ex-presidente por peculato, lavagem de dinheiro e associação criminosa. Bolsonaro nega as acusações.
Bolsonaro e a tentativa de golpe
A delação também aborda a tentativa de golpe de Estado entre 2021 e 2023 para impedir a posse de Luiz Inácio Lula da Silva. O ex-presidente foi denunciado pela Procuradoria-Geral da República por cinco crimes, incluindo liderança de organização criminosa armada e golpe de Estado.
Cid relatou que participou de reuniões em que militares discutiam uma possível intervenção, mas afirmou que não esteve envolvido diretamente em “nenhum planejamento detalhado”. Ele descreveu a existência de grupos militares divididos entre mais “exaltados” e aqueles que tentavam “frear” Bolsonaro.
A delação também revelou que Bolsonaro ordenou o monitoramento do ministro Alexandre de Moraes, então presidente do Tribunal Superior Eleitoral. O objetivo era verificar se ele e o vice-presidente Hamilton Mourão estavam mantendo encontros secretos.
A investigação sobre a tentativa de golpe segue em andamento, e o STF prevê o julgamento de Bolsonaro ainda em 2025 para evitar contaminação do processo eleitoral.
Pressão de aliados
Cid também revelou que, após iniciar sua delação, sofreu pressões para revelar o conteúdo dos depoimentos. O general Braga Netto, ex-ministro da Casa Civil e da Defesa, e o advogado Fábio Wajngarten tentaram obter informações sobre os primeiros depoimentos.
Segundo Cid, após sua soltura, diversos intermediários entraram em contato com seu pai e sua esposa para descobrir o que ele havia dito à Polícia Federal. Braga Netto chegou a solicitar oficialmente ao STF acesso à delação, mas teve o pedido negado.
Wajngarten também teria feito ligações para familiares de Cid com o mesmo objetivo. Esses contatos estão sendo investigados para verificar se configuram pressão sobre o delator.
A delação de Cid segue como peça-chave nas investigações contra Bolsonaro e seu entorno. A expectativa é que novas revelações surjam nos próximos meses, aprofundando o cerco ao ex-presidente e seus aliados.
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