Restaurante Popular fecha as portas e Florianópolis deixa de oferecer refeições de baixo custo

O Restaurante Popular de Florianópolis, localizado na região central da cidade, fecha as portas por tempo indeterminado a partir desta sábado (22). Segundo informado pela secretaria de Assistência Social, uma alternativa ao serviço de alimentação de baixo custo será divulgada “em um momento oportuno”.

Local serve refeições a preços populares para população de baixa renda e gratuitas para moradores em situação de rua – Foto: Vivian Leal/ND

A pasta informou que as pessoas em situação de rua continuarão sendo atendidas na Passarela da Cidadania, onde receberão alimentação e poderão usufruir de todos os serviços assistenciais ofertados no local. Já para os trabalhadores e famílias de baixa renda que se alimentam, diariamente, no local, ainda não há uma opção acessível disponível.

O Restaurante Popular serve, diariamente, 800 refeições, entre café da manhã, almoço e jantar, sete dias na semana. O espaço, contudo, tem capacidade para ofertar duas mil refeições por dia, sendo 500 pela manhã, 1.000 ao meio-dia e mais 500 à noite.

O café da manhã, servido entre 7h e 9h, custa R$ 3. O almoço é servido entre 11h e 14h, pelo valor de R$ 6. O jantar, entre 18h e 20h, tem o mesmo preço do almoço. Pessoas que recebem menos de um salário mínimo pagam 50% do valor.

“Agora, eu vou ter que me virar”, diz autônomo

Cristian Porto, de 51 anos, é autônomo e frequenta o Restaurante Popular, praticamente, todos os dias. Corretor de imóveis e músico, viu a renda cair com a chegada do verão e tinha, no Restaurante Popular, uma forma de reduzir os custos com alimentação. Florianópolis tem a segunda cesta básica mais cara do país.

O autônomo Cristian Porto, de 51 anos, faz refeições diariamente no Restaurante Popular em Florianópolis – Foto: Vivian Leal/ND

“Às vezes almoço, às vezes janto, às vezes almoço e janto. Aqui abrange bastante gente, vem estudante, pessoal que trabalha no Centro. Aqui é uma parte que ajuda a gente a economizar, mas agora, eu vou ter que me virar, né? Isso aqui era uma ajuda para todo mundo”, afirmou à reportagem do ND Mais.

Logo após o último almoço servido pelo Restaurante Popular, na tarde dessa sexta-feira (21), o motoboy João Raposo, de 29 anos, e outros dois colegas de profissão disseram à reportagem que enxergam o fechamento com bons olhos, já pensando nas melhorias que encontrarão no futuro.

“Eu penso que vai ser para melhoria e, para mim, está bom né?! Dá para esperar um pouco, se vai ser bom para todos nós”, afirmou Raposo. “O restaurante popular é pra nós, que é trabalhador, pessoas que estudam, que realmente trabalham”, pontou o motoboy.

A fala vai ao encontro do que comentou outro entregador, que não quis se identificar. Segundo os frequentadores, que tomam café, almoçam e jantam diariamente no Restaurante Popular, brigas e ofensas aos funcionários do estabelecimento são comuns, o que afasta a população do local. Para eles, reforço na segurança do espaço seria bem-vindo.

Valores acessíveis são atrativos para população que quer economizar com alimentação – Foto: Vivian Leal/ND – Foto: Vivian Leal/ND

Fechamento não foi comunicado ao Consea-SC, diz presidente da entidade

No dia 6 de fevereiro, a Secretaria Municipal de Assistência Social usou as redes sociais para informar ao público que o Restaurante Popular fecharia as portas ao fim do mesmo mês. A decisão, no entanto, não foi comunicada aos conselhos municipal e estadual de Segurança Alimentar e Nutrição.

“Em momento algum, nós fomos notificados que ia ter o fechamento ou qualquer outro procedimento no restaurante. Soubemos a partir de trabalhadores daqui e da imprensa”, disse Rita de Cassia Maraschin, presidente do Consea-SC (Conselho Estadual de Segurança Alimentar e Nutricional de Santa Catarina).

Os conselhos atuam para propor, monitorar e avaliar políticas de combate à fome a fim de garantir a segurança alimentar e nutricional de toda a população.

Outro aspecto que chama atenção está na justificativa do fechamento. Na publicação, a pasta explicou que o espaço será reformulado para atender “apenas famílias e trabalhadores em vulnerabilidade social”, direcionando a população em situação de rua para atendimento apenas na Passarela da Cidadania. A medida é criticada pelo Consea-SC.

“A gente ainda não sabe como vai ser essa estrutura, mas ela acaba excluindo um dos públicos prioritários dessa política, que é a população em situação de rua. A gestão acaba colocando a sociedade contra o Restaurante Popular e não consegue entender que o acesso ao alimento é uma das políticas públicas que uma gestão municipal deve atender”, destaca Rita. “É uma questão de dignidade”, reforça.

Fechamento temporário do Restaurante Popular causou indignação em organizações da sociedade civil – Foto: Vivian Leal/ND

À reportagem do ND Mais, o secretário de Assistência Social de Florianópolis, Bruno Souza, informou que o Restaurante Popular estará fechado “pelo menor tempo possível” e estima uma reabertura dentro de dois meses.

Souza informou que a pasta irá “fortalecer os critérios” para frequentar o local. O atendimento à população de rua ficará restrito à Passarela da Cidadania, onde há “equipes para tentar abordar e tirar a pessoa da situação de rua”.