Idosos em abrigo interditado apresentavam magreza extrema, feridas expostas e tiveram cartões retidos, em Fortaleza


A casa de repouso São Gabriel foi interditada pela Justiça em fevereiro de 2025, quase seis anos após o primeiro pedido de interdição. Casa de Repouso São Gabriel, em Fortaleza, funcionava cladestinamente e foi interditada em fevereiro
Divulgação/MPCE
Idosos desnutridos, com magreza extrema e feridas expostas; estrutura com vazamentos, mofo, falta de acessibilidade, odor de urina e fezes; excesso de pacientes para poucos funcionários, que não tinham qualificação. Estas foram algumas constatações das equipes de inspeção que visitaram o abrigo clandestino Casa de Repouso São Gabriel, em Fortaleza, entre janeiro e fevereiro deste ano.
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O abrigo, localizado no bairro Carlito Pamplona, foi interditado no dia 10 de fevereiro após a Justiça acatar uma ação do Ministério Público do Estado do Ceará (MPCE). Conforme a decisão, o local apresentava irregularidades e condições inadequadas para os usuários. Na ocasião, a administração afirmou que as denúncias veiculadas não correspondiam com a realidade atual do abrigo.
Nesta terça-feira (25), durante coletiva de imprensa, o Ministério Público deu detalhes da situação do estabelecimento. Conforme levantamento das autoridades, havia apenas 4 funcionários para atender 66 internos. Cinco idosos foram diagnosticados com tuberculose, e mais de 33 apresentavam sintomas da doença.
Com manchas de mofo e presença de cupins, casa de repouso tem interdição decretada em Fortaleza
Proprietária de abrigo para idosos é presa suspeita de maus-tratos e de comprar carro no nome de interno, em Fortaleza
Uma inspeção da Agência de Fiscalização de Fortaleza (Agefis) em janeiro deste ano apontou que o local tinha rachaduras, infiltrações e mofo, banheiros sem pia completa e sem assento sanitário, odor por todo o espaço e limpeza inadequada. O órgão também destacou que o local não tinha um responsável técnico habilitado e os funcionários não haviam recebido capacitação para o trabalho.
A investigação sobre a casa de repouso São Gabriel começou em 2019, após denúncias anônimas de que havia um abrigo clandestino funcionando no bairro Carlito Pamplona. Conforme as investigações, a casa não tinha nem alvará de funcionamento nem outros documentos necessários, como atestado dos bombeiros.
Já em 2019, o MPCE solicitou a interdição da casa, e o processo se arrastou ao longo de quase seis anos antes da decisão judicial do dia 10 de fevereiro de 2025, pela qual a casa ficou proibida de receber novos pacientes até a decisão final da Justiça, sob pena de multa diária de R$ 1 mil em caso de descumprimento.
Já no dia 17 de fevereiro, a proprietária do local foi presa em flagrante pela Polícia Civil por maus-tratos contra os idosos. Ela é suspeita de pegar os cartões que os idosos usavam para receber benefícios sociais e teria até comprado um carro no nome de um dos internos.
Fiscalização encontrou vários problemas estruturas no abrigo, além de más condições no tratamento dos idoso
Divulgação/MPCE
A dona do estabelecimento foi conduzida à delegacia, onde foi autuada e colocada à disposição da Justiça, que converteu a prisão em flagrante em prisão preventiva. A Polícia Civil disse que instaurou um procedimento policial para investigar as condições atuais às quais internos de uma casa de repouso psiquiátrico eram submetidos.
Família investigada abriu 5 casas de repouso
De acordo com o Ministério Público, a família da proprietária já possuía um histórico de gerir abrigos inadequados que recebiam idosos. O primeiro, chamado Lar de Amparo ao Idoso Filhos de Maria, foi criado em 2013, no bairro São Gerardo, em Fortaleza, pelo marido da proprietária da casa São Gabriel.
O Lar de Amparo foi fechado em 2016, ano em que começaram as fiscalizações sistemáticas em casas de repouso. Dias depois, o casal abriu um novo abrigo, com o mesmo nome, no bairro Iparana, no município de Caucaia. Em 2017, o local foi denunciado por maus-tratos e negligência contra os idosos abrigados.
Justiça determinou interdição imediata por condições inadequadas de funcionamento
Divulgação/MPCE
O MPCE solicitou a interdição do local, no entanto, em janeiro de 2018 o órgão tomou conhecimento de que os idosos haviam sido transferidos para um novo abrigo, chamado Abrigo Lar de Idoso Paz e Bem, criado pelo filho do casal proprietário do Lar de Amparo. O espaço também ficava em Iparana.
O novo local – terceiro em um período de 5 anos – também foi denunciado por negligência e maus-tratos e passou a ser investigado. Nesta época, foi descoberto que o casal constava como proprietário de um quarto abrigo, chamado F. F. Casa de Apoio, que funcionava desde 2016 em Iparana, Caucaia.
Por fim, os dois abriram a Casa de Repouso São Gabriel, em 2018, no bairro São Gerardo. A instituição mudou para seu endereço atual, no bairro Carlito Pamplona, em 2019. No mesmo ano, a nova casa de repouso gerida pela família foi denunciada, e teve início o processo que levou à interdição do local em fevereiro de 2025.
Órgãos responsáveis fizeram visita em casa de repouso em que dona foi presa, em Fortaleza.
SSPDS/Reprodução
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