Japão iniciará despejo de água radioativa de Fukushima no oceano; entenda

Após meses de controvérsia e expectativa, o Japão deverá começar a liberar águas residuais radioativas tratadas da usina nuclear de Fukushima no final desta semana, apesar das fortes objeções de alguns países.

O plano está em andamento há anos. As autoridades alertaram em 2019 que o espaço para armazenar o material estava se esgotando e que “não tinham outra opção” a não ser liberá-lo.

Embora alguns governos tenham manifestado apoio ao Japão, outros opuseram-se fortemente à libertação de águas residuais. Muitos consumidores na Ásia estocaram sal e frutos-do-mar com receio de uma contaminação futura.

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Quando e como a água será lançada?

O primeiro-ministro japonês, Fumio Kishida, disse nesta terça-feira (22) que o governo decidiu formalmente começar a liberar a água já na quinta-feira (24), “se não encontrar obstáculos”.

Ao longo dos anos, as águas residuais foram continuamente tratadas para filtrar todos os elementos nocivos removíveis e depois armazenadas em tanques. Grande parte da água é tratada uma segunda vez, segundo a distribuidora de energia estatal Tokyo Electric Power Company (TEPCO).

Quando as águas residuais forem finalmente liberadas, serão fortemente diluídas com água limpa e terão concentrações muito baixas de material radioativo. Ele viajará por um túnel submarino a cerca de 1 quilômetro da costa, no Oceano Pacífico.

Terceiros irão monitorizar o processo durante e após a liberação — incluindo o órgão de vigilância nuclear das Nações Unidas, a Agência Internacional de Energia Atómica (AIEA). A AIEA tem funcionários locados em um escritório recém-inaugurado em Fukushima e vai monitorar ca situação nos próximos anos, afirmou.

Por que o Japão está fazendo isso?

O terremoto e tsunami devastadores de 2011 danificaram o fornecimento de energia e os sistemas de arrefecimento da central nuclear de Fukushima, causando o sobreaquecimento dos núcleos do reator e a contaminação da água na central com material altamente radioativo.

Desde então, novas águas foram bombeadas para resfriar os restos de combustível nos reatores. Ao mesmo tempo, águas subterrâneas e pluviais vazaram, criando mais águas residuais radioativas que agora precisam ser armazenadas e tratadas.

A TEPCO construiu enormes tanques para conter as águas residuais, mas o espaço está diminuindo rapidamente. A empresa diz que construir mais tanques não é uma opção e precisa liberar espaço para desativar a usina com segurança.

O diretor-geral da AIEA, Rafael Grossi, disse à CNN em julho que o Japão havia considerado cinco opções para se livrar da água, incluindo a liberação de vapor, que poderia ter feito as águas residuais ferverem e serem lançadas na atmosfera.

Mas a maioria dessas opções é “considerada industrialmente imatura”, disse ele. Por exemplo, a liberação de vapor pode ser mais difícil de controlar devido a fatores ambientais como o vento e a chuva, que poderiam trazer os resíduos de volta à Terra, disse ele. Isso levou a uma liberação controlada de água para o mar, procedimento frequentemente feito em centrais nucleares em todo o mundo, incluindo as dos Estados Unidos.

Quais são os riscos?

Embora as águas residuais radioativas contenham alguns elementos perigosos, a maioria deles pode ser removida por vários processos de tratamento, segundo a TEPCO.

A verdadeira questão é que não há tecnologia disponível para remover um isótopo de hidrogênio chamado trítio radioativo. Autoridades e especialistas estão divididos sobre o risco que isso representa.

A TEPCO, o governo do Japão e a AIEA argumentam que o trítio aparece naturalmente no ambiente, incluindo na chuva e na água da torneira, o que torna as águas residuais seguras, especialmente porque serão liberadas lentamente ao longo de décadas.

Mas alguns cientistas temem que as águas residuais, mesmo diluídas, possam prejudicar a vida marinha e os poluentes possam se acumular no já frágil ecossistema.

Um especialista que ajudou as nações das ilhas do Pacífico a revisar e avaliar o plano de liberação de águas residuais disse à CNN que era “imprudente” e prematuro.

Outros argumentam que simplesmente não temos estudos ou dados suficientes sobre os efeitos biológicos de longo prazo da exposição ao trítio.

O que outros governos disseram?

O plano encontrou uma reação mista, com apoio de alguns cantos e ceticismo de outros.

Os EUA apoiaram o Japão e Taiwan concordou que a quantidade de trítio liberada deve ter um impacto “mínimo”.

Mas a China e as ilhas do Pacífico se opuseram veementemente, argumentando que a liberação poderia ter um amplo impacto regional e internacional e potencialmente ameaçar a saúde humana e o ambiente marinho. Alguns governos até proibiram a importação de alimentos de partes do Japão, incluindo Fukushima.

Embora os líderes sul-coreanos tenham apoiado amplamente o plano, os políticos da oposição expressaram seu alarme e os manifestantes pediram que ele fosse interrompido.

A ansiedade do público também aumentou, com os amantes de frutos-do-mar na China continental, Hong Kong e em outros lugares prometendo parar de comer produtos japoneses assim que as águas residuais forem liberadas. Alguns compradores estocaram sal marinho e itens como algas marinhas ou anchovas, por medo de que esses produtos possam ser afetados.

A reação preocupou as comunidades pesqueiras no Japão e na Coreia do Sul, que dizem que isso pode significar o fim de seus meios de subsistência — especialmente aqueles em Fukushima, onde a indústria pesqueira agora vale apenas uma fração do que era antes do desastre de 2011.

Este conteúdo foi originalmente publicado em Japão iniciará despejo de água radioativa de Fukushima no oceano; entenda no site CNN Brasil.

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