Sobrevivente designado: veja quem foi o escolhido para ficar fora de discurso de Trump no Congresso e assumir presidência dos EUA caso cúpula do governo morresse


Criado na Guerra Fria, cargo serve para prevenir vácuo no comando dos EUA em caso de atentado ou hecatombe durante os discursos que juntam todos os membros do governo em apenas um local. Doug Collins, secretário de Assuntos dos veteranos de guerra do governo Trump.
AP Photo/J. Scott Applewhite
Em todo discurso que reúne toda a cúpula de governo dos EUA, uma pessoa é escolhida para não participar do encontro e ser o sobrevivente designado caso alguma catástrofe aconteça.
O secretário de Assuntos dos veteranos de guerra, Doug Collins, foi o escolhido para esse cargo durante o primeiro discurso do presidente Donald Trump em sessão conjunta do Congresso americano na noite de terça-feira (4).
Além de Trump e dos congressistas, quase todos os membros do alto escalão do governo estavam no Capitólio —a sede do Legislativo norte-americano, em Washington— no momento do discurso.
Quase todos, porque um deles fica de fora do discurso e também de Washington para cumprir uma das funções mais intrigantes do governo dos EUA: a do sobrevivente designado, uma figura criada na Guerra Fria que assume nada menos que a presidência da maior potência mundial em caso de uma hecatombe ou um atentado terrorista que matasse todas as autoridades.
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Até hoje, um evento dessas proporções só aconteceu na ficção: na série “Designated Survivor” (2016), estrelada por Kiefer Sutherland. Mas, todos os anos, um nome diferente é escolhido para a função —no ano passado, o então presidente Joe Biden escolheu o secretário da Educação Miguel Cardona para o posto. (Veja imagem abaixo)
Entenda, abaixo, como funciona a escolha do sobrevivente designado e como o cargo foi criado:
O secretário da Educação de Joe Biden, Miguel Cardona, em imagem de agosto de 2022
Olivier Douliery / AFP
Linha de sucessão
Todos os anos, um membro da cúpula do Executivo é escolhido para se ausentar em discursos presidenciais que envolvam todos os integrantes do governo dos EUA —como os discursos anuais do Estado da União, por exemplo— para garantir a continuidade do governo em caso de uma tragédia.
O discurso de Trump desta terça-feira (4) não foi Estado da União, mas foi uma sessão conjunta do Congresso, então todos os membros do Executivo e Legislativo estavam presentes.
Como vice-presidente e presidentes das casas legislativas estão sempre presentes no evento, o sobrevivente designado costuma ser escolhido entre os postos mais baixos da linha de sucessão.
O sobrevivente designado – Collins, no caso – é levado para fora da capital para um local secreto, sob forte proteção, onde permanece durante toda a noite.
O ator Kiefer Sutherland na série Designated Survivor.
Divulgação
Nos EUA, a linha de sucessão presidencial se estende por uma série de mais de uma dezena de nomes. A tradição de se escolher um sobrevivente designado teve início nos anos 1950 e remonta à Guerra Fria entre Estados Unidos e a então União Soviética.
Em caso de morte ou impedimento do presidente, quem assume é o vice-presidente – nos EUA, o vice também exerce o cargo de presidente do Senado, apesar de não ser um senador.
O número dois da linha sucessória é o Presidente da Câmara dos Deputados, seguido pelo presidente “pro tempore” do Senado (um senador escolhido pela Casa que assume a liderança desta em caso de ausência do vice-presidente).
Em seguida, vêm os secretários do Executivo: primeiro o secretário de Estado, seguido pelo do Tesouro, da Defesa, Advogado-Geral, do Interior etc.
A identidade do sobrevivente designado só foi tornada pública a partir dos anos 1980. Desde então, o ranking mais alto a ser escolhido para a função foi o Advogado-Geral, sétimo na linha sucessória.
Fascínio
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Para o historiador norte-americano Garrett Graff, o conceito de sobrevivente designado há muito tempo cativa as pessoas porque combina o fascínio inerente do público com o perigo e o romance de um “homem comum” sendo empurrado para a presidência.
“A ideia de que você é apenas um oficial aleatório do gabinete e, então, algo terrível acontece e, de repente, você é o presidente dos Estados Unidos”, disse Graff à agência de notícias Associated Press, autor de “Raven Rock: A história do plano secreto do governo dos EUA para se salvar — enquanto o resto de nós morremos”.
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