Turistas planejam viagem para ver último eclipse anular do sol até 2027 e têm passagens suspensas pela 123 Milhas

Paraíba é um dos estados mais privilegiados para as pessoas verem o eclipse anular do sol. Astrônomos amadores tinham viagens agendadas para a cidade de Araruna, para acompanhar o evento. Cristóvão Jacques, à esquerda, e Eduardo Oliveira, tiveram emissão de passagens suspensas pela 123milhas
Arquivo Pessoal
Turistas de Minas Gerais planejavam viagens para a Paraíba com o intuito de ver o último eclipse anular do sol no Brasil até 2027, que vai poder ser visto perfeitamente em todo o estado em 14 de outubro e tem em João Pessoa a melhor capital para observar o fenômeno. No entanto, eles precisaram refazer seus planos após a empresa de viagens 123 Milhas suspender a emissão de passagens já contratadas da linha ‘Promo’.
Em conversa com o g1, os astrônomos amadores das cidades de Belo Horizonte e Diamantina, Cristóvão Jacques e Eduardo Oliveira, respectivamente, contaram que tiveram a oportunidade de presenciar o evento interrompida, por conta da empresa de viagens.
No caso de Cristóvão Jacques, que também é engenheiro e empresário, a esposa também havia comprado as passagens e iria com ele para a cidade de Araruna, no interior do estado. O casal que é fanático por astronomia planejava a viagem desde fevereiro e iria participar do Encontro Nacional de Astronomia, que vai acontecer no período próximo a data do eclipse, entre os dias 12 e 14 de outubro.
“Em fevereiro deste ano, eu e minha esposa estávamos planejando ir a João Pessoa para de lá participar do Encontro Nacional de Astronomia em Araruna. Foi tudo comprado pela 123 Milhas, no pacote promocional deles, e agora [estamos] com esse problema”, relatou.
Segundo o engenheiro, a situação complicou a possibilidade da viagem ocorrer, porque além de terem que arcar com custos com novas passagens em outras companhias aéreas, não conseguiriam utilizar o dinheiro pago a 123 Milhas fora dos vouchers disponibilizados pela empresa.
“No mínimo vai ser o dobro pra gente comprar novas passagens, agora em cima da hora, e também um absurdo de não poder receber o dinheiro de volta e sim em forma de voucher, que só dá a opção de você comprar dentro da própria empresa”, explicou.
Quanto aos prejuízos financeiros ocasionados pela suspensão, Cristóvão relatou que as passagens de ida e volta para a capital paraibana, somadas, chegaram a um valor de R$ 1.500, no entanto, com a suspensão da emissão dos bilhetes, o dinheiro perdido pode chegar a um valor ainda mais alto.
“Hoje eu não consigo comprar as passagens no mercado por menos de R$ 3.500, no mínimo. Então certamente eu terei prejuízos financeiros. E logicamente vou ter que complementar essa diferença (entre valor inicial pago na passagem e o que pode ser comprado atualmente). No mínimo um prejuízo de R$ 2 mil, 3 mil”, ressaltou.
Cristóvão conta também que por conta dessa diferença nos valores das passagens atualmente vendidas, pode ser que não consiga ir junto com a esposa para a Paraíba ver o eclipse, e disse que ainda estuda as possibilidades.
“Ainda não comprei novas passagens, estou estudando para ver se a gente consegue alguma promoção, porque se eu comprar novas passagens em outro site, eu perco o voucher, então tenho que usar o voucher em alojamento, hotel, mas tudo dentro do site da 123 Milhas, o que é absurdo”.
Insistência na viagem para ver o eclipse
Eduardo foi um dos prejudicados com a decisão da 123 milhas
g1
Já no caso de Eduardo Oliveira, que além de astrônomo amador é também professor universitário na área de ciências farmacêuticas, o prejuízo financeiro não o impediu de comprar outra passagem para conferir o eclipse anular do sol na Paraíba.
O professor explicou que na primeira compra, feita com a empresa antecipadamente, ainda em junho, conseguiu pagar R$ 580 no pacote promocional, que teria desembarque em Recife, capital de Pernambuco, para posteriormente ir para Araruna, onde também participaria do encontro nacional de astronomia. Na segunda vez, ele mudou de empresa para comprar as passagens e realizar o sonho de ver o eclipse.
“Tenho procurado me informar sobre os meus direitos e provavelmente vou entrar com uma ação judicial para reaver o valor pago. O problema implicou em eu ter que buscar outra passagem para ir à Paraíba. Eu sei que muitos consumidores foram lesados pela empresa e eu infelizmente não imaginei que pudesse acontecer”, contou.
Apaixonado por astronomia, Eduardo disse que, de preferência, quer que a empresa o reembolse financeiramente e não por meio de voucher, que pode ser utilizado somente dentro da própria estrutura de produtos oferecidos pela 123 Milhas.
Em valores, ele contou também que devido ao pagamento de outra passagem para a Paraíba, deve ter um prejuízo de mais de R$ 2 mil.
“Considerando que minha expectativa era viajar com uma passagem com valor de R$ 580 e precisei comprar outra no valor de R$ 2.100, e considerando que não há nenhuma garantia de reembolso do valor pago, considero que levei prejuízo sim”, argumentou.
Paixão pela astronomia
Cristóvão Jacques ainda não sabe se vai poder ir para a Paraíba para ver o eclipse
Arquivo Pessoal
Tanto Cristóvão quanto Eduardo, que são astrônomos amadores, nutrem paixão pela astronomia e têm no evento do eclipse uma possibilidade de presenciar um momento histórico para a área que desperta tanto interesse deles. Ambos, inclusive, já fizeram observações que geraram certa notoriedade dentro do meio científico.
“Sou astrônomo amador e trabalho com a área de buscas e monitoramento de asteroides próximos da Terra e já descobrimos vários aqui no nosso observatório, assim como cometas. Também sou divulgador científico e tenho um canal no Youtube, então era uma oportunidade de vermos um eclipse tão específico e conhecer o interior da Paraíba, o céu da Paraíba”, disse Cristóvão.
Os dois planejaram estar presente no 23° Encontro Nacional de Astronomia, que por conta da posição privilegiada da Paraíba em relação ao eclipse, vai ser realizado em Araruna, no interior do estado, no período em que vai acontecer o fenômeno nos céus.
“Sou astrônomo amador e astrofotógrafo. Um eclipse anular do sol é um evento raro. Ter esta oportunidade de assistir e fotografar este evento sem precisar ir para outro país ou continente é ainda mais raro. É um sonho presenciar e poder registrar um eclipse solar no nosso país”, ressaltou Eduardo.
Como observador da área astronômica, Eduardo fez parte de uma equipe que observou a fusão de duas galáxias muito antigas, uma mais velha e maior que a outra, que fez com a menor se “destroçasse”.
As observações foram publicadas no site ‘Sky & Telecope’, que é um subsidiário da Sociedade Americana de Astronomia, em um projeto da Universidade Católica da América.
O que diz a 123milhas
123 Milhas
ALOISIO MAURICIO/FOTOARENA/FOTOARENA/ESTADÃO CONTEÚDO
O g1 entrou em contato com a 123 Milhas pelo único canal de comunicação disponibilizado pela empresa para saber sobre as reclamações dos dois amantes de astronomia que tiveram as viagens interrompidas para a Paraíba.
A empresa respondeu enviando uma nota que também está disponível no site da companhia, na qual diz que decidiu suspender as emissões de passagens e pacotes da linha ‘Promo’ por conta de “persistência de fatores econômicos e de mercado adversos, entre eles, a alta pressão da demanda por voos, que mantém elevadas as tarifas mesmo em baixa temporada, e a taxa de juros elevada”.
Além disso, na nota, a empresa disse que os valores das passagens compradas são “integralmente devolvidos em vouchers, com correção monetária de 150% do CDI – acima da inflação e dos juros de mercado”. Como no caso de Cristóvão e Eduardo, consumidores, no entanto, reclamam da decisão da empresa, por conta dos vouchers poderem ser somente utilizados em outros produtos da própria companhia aérea.
Também na nota, a empresa afirmou que tem uma área voltada para perguntas e respostas mais frequentes para os consumidores e um número de WhatsApp que é possível pedir os vouchers, que é o (31) 99397-0210.
Tanto Eduardo quanto Cristóvão disseram ao g1 que somente ficaram sabendo da decisão da empresa pela imprensa, sem comunicado prévio.
*sob supervisão de Jhonathan Oliveira
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