Mãe de jovem morto em acidente aéreo há mais de 10 anos critica aeroclube após nova queda


Matheus Souza, de 19 anos, morreu em um acidente aéreo em Guarujá (SP), em 2012. A mãe dele, Elizabeth Souza, alega ter revivido ‘pesadelo’ com a queda de um avião em Peruíbe (SP). Acidente aéreo em Guarujá (SP) ocorreu em 2012. Uma das vítimas foi Matheus de Souza (familiares dele à direita)
Claudio Vitor Vaz e Rogério Soares/Arquivo A Tribuna Jornal
O acidente aéreo que matou o piloto Matheus Henrique Gomes de Toledo, de 25 anos, e deixou o aluno dele ferido em Peruíbe, no litoral de São Paulo, trouxe à tona reclamações sobre o aeroclube de onde o avião partiu em Itanhaém.
Elizabeth Souza, que também perdeu o filho em uma queda de avião do mesmo lugar, em 2012, usou as redes sociais para desabafar sobre o caso e pedir o fechamento do aeroclube, descrito por ela como uma “espelunca”. Procurada, a companhia não se manifestou sobre as críticas das famílias.
✅ Clique aqui para seguir o novo canal do g1 Santos no WhatsApp.
No caso mais recente, o avião de pequeno porte modelo Cessna 150J caiu por volta de 17h50 de domingo (9) na Terra Indígena Piaçaguera, em uma área que faz limite com Itanhaém. A causa do ocorrido será apurada pelas autoridades.
Há 13 anos, porém, outro voo de instrução do Aeroclube de Itanhaém acabou em tragédia. O avião saiu da sede em direção aos aeroportos em São Paulo e Sorocaba, mas caiu em Guarujá quando retornava ao litoral paulista. Os dois ocupantes – a instrutora de voo Vitória Carrer, de 29 anos, e o aluno Matheus de Souza Fonseca, de 19 – morreram.
Vídeo flagra avião rodopiando e caindo em cima de aldeia indígena no litoral de SP
Elizabeth Souza, mãe do jovem de 19 anos, escreveu na internet que a queda do avião em Peruíbe fez com que ela revivesse o pesadelo de anos atrás. A mulher também prestou solidariedade à família de Matheus Henrique e comentou sobre a coincidência entre o nome do piloto e do filho dela.
“Está cheio de arapucas se passando por profissionais de avião, ganhando dinheiro em cima de sonhos de jovens como mais um Matheus”, escreveu Elizabeth Souza em um dos posts. “Está na hora desta espelunca, desta verdadeira arapuca, fechar”, afirmou ela.
A mulher acrescentou que acidentes aéreos possuem uma causa e, consequentemente, um responsável. “Meus sentimentos a família. E sugiro, vai a fundo nisso. Se o piloto era experiente e competente, certamente estava num avião sucateado”, escreveu ela.
Elizabeth também ironizou a nota de pesar publicada pelo Aeroclube de Itanhaém. “O que se cobra na hora-aula não vale uma vida humana. […] Enriquecem e tudo é feito para depois ser alegado que o aeroclube não tem dinheiro para indenizar as famílias. Porque o dinheiro vai para o bolso de alguém. Eu sou prova disso”, afirmou.
Elizabeth Souza desabafou nas redes sociais após acidente aéreo em Peruíbe (SP)
Reprodução/Redes sociais
Causa
Elizabeth também publicou um vídeo falando sobre o acidente do filho. De acordo com ela, a investigação do Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa) concluiu que houve falha humana da instrutora de voo.
“Ela tomou a decisão errada no momento errado. Ela foi avisada no aeroclube de Sorocaba (SP) que tinha uma tempestade no litoral, e quem se lembra daquele dia, foi uma grande tempestade. Só que em Sorocaba estava sol e, por arbitrariedade, por decisão dela, achou que dava tempo de sair do alto da serra em Sorocaba, atravessar toda a Serra do Mar e chegar ao litoral a tempo”, disse.
Ainda de acordo com Elizabeth, a instrutora e o filho encontraram uma nuvem de chuva já no litoral paulista e “se perderam na tempestade”. A mãe acrescentou que, neste caso, “não foi problema com o avião, mas foi problema da decisão errada”.
Aeroclube
Procurado pelo g1, o Aeroclube de Itanhaém não respondeu sobre as denúncias. A única manifestação sobre o acidente ocorreu por meio de uma nota de pesar nas redes sociais.
“Perdemos não somente um excelente profissional, mas também um ótimo amigo que deixa um grande legado de personalidade brilhante. Que Deus o receba de braços aberto”, diz a nota (veja na íntegra abaixo).
Aeroclube de Itanhaém emitiu uma nota de pesar após acidente aéreo em Peruíbe (SP)
Redes sociais
Acidente
Tais Elena, mãe de Matheus Henrique, acredita houve falha mecânica e que o piloto tenha colaborado para ajudar o aluno dele, que também estava na aeronave e sobreviveu. “Meu filho foi um herói. Ele salvou o aluno dele, que estava viajando e sobreviveu”, disse a mulher.
Segundo Tais, o piloto era ótimo em pousos. “Era quase perito, pousava o avião sem tranco”, afirmou. Por isso, a família acredita que o acidente foi resultado de alguma falha mecânica. “Espero sinceramente que a Anac [Agência Nacional de Aviação Civil] faça a investigação do que houve de fato. Posso quase apostar que não houve falha humana”, enfatizou.
Para ela, o sobrevivente poderá ser uma forte testemunha do talento de Matheus enquanto piloto. “Vai poder contar o que houve lá em cima, o que aconteceu para que chegasse ao ponto de ter um pouso forçado dessa natureza. Não é uma coisa normal, ninguém pousa forçado manualmente porque quer”, finalizou.
Em nota, a assessoria do Hospital Regional Jorge Rossmann informou que o paciente, de 24 anos, possui quadro de saúde estável e está recebendo o atendimento médico necessário.
Avião rodopiou no ar antes de cair em cima de aldeia indígena em Peruíbe (SP)
Reprodução
Destroços
Em vídeo feito pelo Corpo de Bombeiros, é possível ver a aeronave destruída após a queda. As imagens mostram parte do painel do avião, bem como pneu, poltronas e diversas partes da carcaça da aeronave espalhadas pela mata (assista abaixo).
Vídeo mostra destroços de avião que caiu em aldeia no litoral de SP
O caso
A aeronave emitiu um alerta às 17h42 e, segundo o Corpo de Bombeiros, caiu por volta das 17h50, na divisa com Itanhaém (SP). O resgate do sobrevivente durou aproximadamente três horas.
O Corpo de Bombeiros informou ter deslocado 15 agentes em cinco viaturas para a ocorrência. O Serviço de Atendimento Móvel de Urgente (Samu), o Departamento Municipal de Defesa Civil de Peruíbe e a PM também foram acionados.
Segundo a Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai), o avião atingiu a aldeia Awa Porangawa Dju, terra Indígena Piaçaguera. Nenhum indígena se feriu, mas as árvores que caíram com o acidente obstruíram a estrada de acesso às moradias.
Em nota, a Força Aérea Brasileira afirmou que investigadores do Quarto Serviço Regional de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (SERIPA IV), órgão regional do Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (CENIPA), localizado em São Paulo (SP), foram acionados para a ‘Ação Inicial’ da ocorrência envolvendo a aeronave de matrícula PT-AKY.
Durante esta etapa, de acordo com a FAB, são aplicadas “técnicas específicas por profissionais qualificados e credenciados, responsáveis pela coleta e confirmação de dados, preservação dos elementos, verificação inicial dos danos causados à aeronave ou pela aeronave, e pelo levantamento de outras informações necessárias à investigação”.
Avião cai em aldeia indígena e deixa um morto e um ferido no litoral de SP
g1
VÍDEOS: g1 em 1 Minuto Santos
Adicionar aos favoritos o Link permanente.