Pó de Café e USP Filarmônica fazem concerto inspirado na história do café em Ribeirão Preto

Pó de Café e USP Filarmônica fazem concerto inspirado na história do café em Ribeirão PretoRedação Pó de Café se apresenta em Ribeirão Preto e região para apresentar novo trabalho

O grupo de jazz brasileiro Pó de Café, com mais de 13 anos de carreira, prepara seu quinto álbum, “Suíte do Café”, a ser gravado juntamente com a orquestra USP Filarmônica, de Ribeirão Preto. Os músicos farão também duas apresentações ao vivo desse novo trabalho, nos dias 29 e 30 de agosto, nas cidades de Ribeirão Preto e São Carlos (ver datas e locais abaixo).

Uma suíte é uma peça musical composta por vários movimentos – várias músicas dentro da mesma música. As oito composições da “Suíte do Café” se complementam em uma peça musical que une a tradição da orquestra sinfônica com as sonoridades contemporâneas do jazz afrobrasileiro do Pó de Café. Para tanto, somam-se ao sexteto mais 35 músicos da USP Filarmônica, regidos por José Gustavo Julião Camargo. Os arranjos foram desenvolvidos de forma coletiva sobre temas compostos pelo baixista Bruno Barbosa, pelo pianista Murilo Barbosa e pelo trumpetista Rubinho Antunes, que também assina as orquestrações. “Em cada um dos nossos trabalhos, nós sempre buscamos um mote. Nos nossos discos anteriores, o samba-jazz, a música afrobrasileira, a música caipira e a pandemia foram nossas inspirações. Agora nós quisemos fazer uma homenagem à cidade onde atuamos. Afinal, o município já foi a capital mundial do café e levamos até o café no nome. Por que não uma música sobre o café?”, ressalta o baixista Bruno Barbosa.

As raízes agrícolas da cidade de Ribeirão Preto são evidentes. Famosa por ter sido a “capital mundial do café” – produto que lastreou a economia da cidade desde a segunda metade do século XIX até os anos 40 do século passado –, Ribeirão traz as marcas culturais desse processo histórico até hoje. Uma obra que fale sobre o café, é portanto “falar da própria história da cidade, com todos os seus benefícios e problemas, seus personagens, seus trabalhadores, seus líderes, seus cenários contrastantes e mazelas. Um mosaico de pontos de vista, como uma música de múltiplas formas, interconexões e planos, justamente como uma suíte, música de forma livre que une diversos temas em sucessão”, ressalta o pianista Murilo Barbosa.

Suíte do Café e a “Belle Époque” Caipira

As oito músicas da “Suíte do Café” seguem o arco histórico do primeiro ciclo econômico do café no Brasil. A “Abertura” é densa e misteriosa, como eram os caminhos que trouxeram os primeiros migrantes que se encantaram com a terra roxa e com a diversidade vegetal das florestas entre a Mata Atlântica e o Cerrado na região, em princípios do século XIX. O segundo e o terceiro movimentos fazem alusão à geografia do novo pedaço de chão: “Entre Rios” e “Novo Oeste”, nomes pelos quais Ribeirão Preto foi conhecido por um breve período. O quarto movimento, “Mogiana”, homenageia a estrada de ferro que fazia a ligação das fazendas de café com o porto de Santos, em inúmeras viagens que também trouxeram novos trabalhadores para o local. O quinto movimento, “Braçal”, a música mais rápida da peça, traduz o trabalho duro e o esforço gigantesco que foi empreendido pela mão de obra, tanto de ex-escravos quanto de imigrantes. O café Bourbon era o produto de grande qualidade exportado para o mundo todo, e é o título do sexto movimento, em ritmo de um maxixe que evolui em turbilhões de acordes, se esparramando como os grãos do café. O começo do fim é a grande geada de 1918, acentuando a crise econômica gerada pela Primeira Guerra Mundial, que derrubou as importações europeias de café. Esse momento de grande preocupação foi traduzida no sétimo movimento chamado “Geada”: a música é introspectiva e delicada e, assim como o ciclo econômico do café, se renova logo depois com a urbanização rápida e caótica. Então o movimento musical se transforma em um “rock jazz” que energiza a orquestra toda. O fim da suíte, seu oitavo movimento, leva o título de “1929”, ano em que o “crash” da Bolsa de Valores de Nova York provocou uma crise econômica sem precedentes, e fez com que as lavouras de café fossem trocadas por outras culturas, direcionando os investimentos e os trabalhadores para a cidade e os negócios urbanos, como a construção civil. Foi nesse período, que o Theatro Pedro II foi construído, juntamente com as fábricas de cerveja e tecidos.

O historiador Daniel Deminice foi um consultor para as pesquisas realizadas pelos músicos em busca de histórias e dados sobre o período. O pesquisador explica que “Ribeirão Preto é marcada pelo que os livros chamam de “Belle Époque Caipira”, uma consequência da urbanização influenciada pela estética europeia do século XIX e propiciada pelo dinheiro dos negócios do café. Um processo contraditório que aliou prosperidade econômica, urbanização e degradação ambiental”, ressalta o historiador.

Pó De Café – Entre cafezinhos e parcerias

O Pó de Café é formado por Bruno Barbosa (baixo), Duda Lazarini (bateria), Marcelo Toledo (sax), Murilo Barbosa (piano), Neto Braz (percussão) e Rubinho Antunes (trumpete) e começou como um encontro informal de músicos profissionais de Ribeirão Preto que tinham a intenção de explorar a musicalidade do jazz e da música instrumental. Doze anos depois, o grupo já gravou cinco discos e participou de festivais nacionais e internacionais como o “Jazz à la Calle”, em Mercedes, no Uruguai, em 2017. O terceiro álbum, “Terra”, que faz releituras de clássicos da música caipira, alcançou grande repercussão no meio especializado. Carlos Calado da “Folha de S. Paulo”, incluiu “Terra” entre os 50 melhores discos de 2017; Antonio Carlos Miguel do “Jornal O Globo” elogiou a “volta às origens” do grupo; blogs do Brasil e do exterior, como o inglês “UK Vibe”, também listaram o disco entre os melhores do ano.

Ao longo de sua trajetória, o grupo também fez parcerias com personalidades da cultura brasileira. Em 2019, o “Pó de Café” realizou uma série especial de shows pelo interior paulista para homenagear os 60 anos do disco “Kind of blue”, de Miles Davis, com comentários do músico e humorista Reinaldo Figueiredo. E o último álbum, “Interior”, lançado em 2021, contou com a participação especial da cantora Maria Rita.

Serviço

“SUÍTE DO CAFÉ” – GRUPO PÓ DE CAFÉ E USP FILARMÔNICA

Ribeirão Preto

Quando: 29 de agosto, 20h

Onde: Anfiteatro da FDRP (Faculdade de Direito da USP) – Rua Prof. Aymar Baptista Prado, 835, Ribeirão Preto, SP

Entrada gratuita

São Carlos

Quando: 30 de agosto, 20h

Onde: Teatro Municipal Alderico Vieira Perdigão – Rua 7 de Setembro, 1735

Entrada de graça – os convites serão distribuídos no dia do concerto, a partir das 19h.

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Fonte: São Carlos Agora. Leia o artigo original: Pó de Café e USP Filarmônica fazem concerto inspirado na história do café em Ribeirão Preto

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