Racismo impediu amistoso entre Brasil e Argentina há 105 anos; entenda

Maior clássico de seleções do mundo, o início da história do confronto entre Argentina e Brasil teve um jogo cancelado, há 105 anos, por conta de um ato racista.

O tema domina a América do Sul nos últimos meses, inclusive com um posicionamento da CBF contra a Conmebol, que tem aplicado penas brandas para manifestações racistas nas partidas das competições que organiza, principalmente de clubes.

Na volta do Campeonato Sul-Americano de 1920, disputado em Viña del Mar, no Chile, a Seleção Brasileira, que defendia o título conquistado no ano anterior, parou em Buenos Aires, numa viagem feita de navio.

A programação era disputar um amistoso com os argentinos. Mas uma manifestação racista na imprensa local, mas feita por uruguaios, impediu que a partida fosse realizada e provocou a primeira grande briga entre os rivais por questões de racismo.

Em 3 de outubro daquele ano, o Brasil disputaria um amistoso contra a Argentina no campo do Sportivo Barracas, em Buenos Aires, mas o confronto acabou adiado pela chuva. A nova data acertada era 6 de outubro.

No dia do jogo, chegou à delegação brasileira a edição do jornal “A Crítica” em que o jornalista uruguaio Palacio Zino, publicou um artigo com o título:

Monos em Buenos Aires – um saludo a los ilustres huespedes” (Macacos em Buenos Aires – uma saudação aos ilustres hóspedes).


Jornal argentino fez publicação racista em 1920
Jornal argentino fez publicação racista em 1920 • Foto: Reprodução

O artigo, que tinha como ilustração uma charge de Taborda, outro uruguaio, em que os jogadores brasileiros apareciam como macacos, com a camisa da Seleção, era carregado de racismo e preconceitos contra as brasileiras, tratadas como mulheres fáceis e infiéis.

O capitão do Brasil, Augusto Maria Sisson, jogador com passagens por Grêmio e Flamengo, iniciou um movimento para que os jogadores não entrassem em campo. O atleta conseguiu, com apoio de alguns companheiros, mas não de todos.

Além disso, Sisson deu um tapa na cara do jornalista uruguaio que havia escrito a publicação. Palacio Zino tinha ido ao hotel onde estava a delegação brasileira para conseguir informações sobre a partida.


Sisson (à esq.) foi capitão da Seleção Brasileira em 1920
Sisson (à esq.) foi capitão da Seleção Brasileira em 1920 • Foto: Reprodução

Palacio Zino justificou seu artigo dizendo que em 1919, quando veio ao Brasil cobrir o Sul-Americano, ele e os jogadores argentinos não foram bem tratados, principalmente pela imprensa brasileira.

Além disso, garantiu que no Sul-Americano do Chile, em 1920, ele foi provocado a todo momento pelos atletas do Brasil.

De toda forma, sua atitude se transformou numa questão diplomática.

Pedro de Toledo, que era uma espécie de embaixador brasileiro em Buenos Aires pediu explicações ao governo argentino.

Honório Pueyrredón, então ministro do exterior da Argentina, entrou com um processo judicial contra o jornal “A Crítica” e pediu a expulsão dos seus redatores, que eram todos uruguaios.

A delegação do Brasil voltou para casa em 8 de outubro, com dirigentes e jogadores argentinos indo ao porto para se despedir dos brasileiros. Cinco dias depois, data do final da viagem, o “Jornal do Brasil” publicou um artigo com o título: “Um inimigo do Brasil”.

O diário carioca falava para o público brasileiro quem era Antonio Palacio Zino, e relatava que o governo argentino, diante da repercussão do caso, ordenou que fosse feito um processo de expulsão do jornalista uruguaio.

Sete de cada lado

O movimento de Sisson acabou impedindo que as duas seleções disputassem um amistoso oficial.

Isso porque o Brasil não tinha 11 jogadores. Apenas seis atletas aceitaram encarar os argentinos naquele 6 de outubro de 1920.

Como mais de três mil ingressos tinham sido vendidos, a solução foi um confronto entre duas equipes com sete jogadores para cada lado, sendo que o time brasileiro contou com Oswaldo Gomes, que era o chefe da delegação.

Em 1920, Oswaldo seguia defendendo o Fluminense, mas foi ao Sul-Americano como dirigente.

Com o goleiro Kuntz atuando como zagueiro, o Brasil foi derrotado por 3 a 1 no Estádio do Barracas.

Castelhano, do Santos, chegou a abrir o placar para a Seleção Brasileira, mas Raúl Echeverría (2) e Fausto Lucarelli decretaram a virada argentina.

Este conteúdo foi originalmente publicado em Racismo impediu amistoso entre Brasil e Argentina há 105 anos; entenda no site CNN Brasil.

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