Vítimas denunciam ‘apologia do sexismo’ durante julgamento contra Depardieu em Paris

O ator francês Gérard Depardieu retorna à sala de audiências do tribunal correcional de Paris para o julgamento contra ele por agressões sexuais durante uma filmagem em 2021, em 27 de março de 2025Julien de Rosa

JULIEN DE ROSA

“Assistimos à apologia do sexismo”, declarou, nesta quinta-feira (27), a advogada de uma das duas denunciantes no julgamento em Paris contra o astro do cinema francês Gérard Depardieu, acusado de agressões sexuais durante uma filmagem em 2021.

“‘Puta’, ‘estúpida’, ‘pesada’, fazer você gozar’, ‘eu sou um homem de verdade, tenho direito'”, citou a advogada Claude Vincent, no início de suas alegações finais diante de uma atônita sala do tribunal correcional de Paris.

“Todas essas palavras (…) Esse é Gérard Depardieu em um conjunto, essa é a atmosfera que impõe”, acrescentou a advogada de Sarah (pseudônimo), uma das duas mulheres que o acusam de agressão sexual durante a gravação do filme “Les Volets Verts”.

O acusado, de 76 anos, defendeu sua inocência durante o julgamento iniciado na segunda-feira, assegurando que embora seja alguém “vulgar, grosseiro, desbocado”, não cometeu as agressões sexuais das quais é acusado.

Sarah, uma assistente de direção no filme de Jean Becker, denunciou que o ator tocou suas nádegas e seios diversas vezes, embora a mulher de 34 anos tenha lhe dito claramente “não” nas duas últimas vezes.

A outra denunciante, Amélie, uma cenógrafa de 54 anos, explicou que a suposta agressão ocorreu após uma conversa sobre o cenário e a busca de guarda-chuvas dos anos 70 para o restante da filmagem.

“Então ele fecha as pernas e agarra meus quadris”, descreveu Amélie, lembrando a “força” do ator, “seu rosto grande”, “seus olhos vermelhos, muito excitados” e suas palavras: “Venha e toque meu grande guarda-sol. Vou enfiá-lo na sua xota!”

Para Claude Vincente, “não é nem Jean Valjean, nem Cyrano de Bergerac, nem os homens que interpretou. Ele é Gérard Depardieu e é misógino!”.

As advogadas também aproveitaram para denunciar os múltiplos ataques que elas e suas clientes receberam durante o julgamento.

“Mentirosa, histérica, vão chorar!”, gritou, por exemplo, o advogado do ator, Jérémie Assous, às duas denunciantes.

“Durante quatro dias, não assistimos a uma estratégia de defesa”, mas sim à “apologia do sexismo”, lamentou Vincent.

Para além do julgamento, que pode levá-lo a enfrentar a até cinco anos de prisão, 20 mulheres acusam o astro internacional por comportamentos similares, mas a maioria das denúncias foram arquivadas porque os supostos crimes prescreveram.

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