O que se sabe sobre a morte da defensora pública após tentativa de colocar DIU em Boa Vista


Defensora pública Geana Aline de Souza, de 39 anos, morreu de infecção generalizada uma semana após passar por um procedimento de tentativa de para inserir o DIU com a médica Mayra Suzanne Garcia Valladão. Polícia Civil investiga médica por homicídio culposo – quando não há intenção de matar. Polícia Civil abriu investigação sobre a morte de defensora
No dia 25 de março a defensora pública Geana Aline de Souza, de 39 anos, morreu de infecção generalizada uma semana após passar por um procedimento de tentativa de para inserir o DIU com a médica Mayra Suzanne Garcia Valladão, em Boa Vista. A Polícia Civil investiga a médica por homicídio culposo – quanto não há intenção de matar, e apura se ela foi negligente ou se houve imperícia ou imprudência no procedimento feito na vítima.
Confira abaixo o que já se sabe sobre a morte da defensora e o que ainda precisa ser esclarecido.
Que dia foi a consulta de Geana com Mayra?
Geana morreu de que?
Por que o DIU não foi inserido?
A médica tinha registro de ginecologista?
Quem investiga o caso?
Quem era a defensora?
Que dia foi a consulta de Geana com Mayra?
Méca Mayra Suzanne Garcia Valladão divulga nas redes sociais trabalho ginecológico e com saúde íntima da mulher
Reprodução/Facebook
A defensora pública Geana se consultou com Mayara no dia 18 de março, uma terça-feira, quando tentou colocar o DIU – dispositivo intrauterino que é inserido no útero método contraceptivo para evitar gravidez. O procedimento, no entanto, não foi finalizado.
Ainda não se sabe por que a inserção foi interrompida pela médica. Depois de sair do consultório, Geana foi para casa. Desde então, segundo a família, ela passou a se queixar de dores e teve febre. A defensora morreu na terça-feira seguinte, dia 25.
Também ainda não foi esclarecido se nos dias seguintes à consulta a defensora retornou no consultório de Mayra. No dia em que Geana morreu, a médica divulgou uma nota em que dizia que “prestou toda a assistência necessária”.
Geana morreu de que?
Geana morreu de infecção generalizada após dar entrada em estado gravíssimo de saúde no hospital Ville Roy, uma unidade particular em Boa Vista.
Ela chegou no pronto-socorro do hospital às 15h25 e morreu às 22h50. Segundo a unidade, Geana estava em “choque séptico [condição grave de infecção], em gravíssimo estado de saúde, secundário a abdômen agudo perfurativo de foco ginecológico”.
Além disso, apresentava “insuficiência renal, insuficiência hepática, insuficiência circulatória e dor abdominal intensa”. A defensora foi submetida à cirurgia de emergência e foi internada na Unidade de Terapia Intensiva. No entanto, “evoluiu com rápida deterioração clínica, indo a óbito posteriormente”, divulgou o hospital.
Conforme a família, Geana teve uma infecção grave no colo do útero. Essa infecção se espalhou pelo corpo e evoluiu para uma infecção generalizada, que levou à falência de órgãos, como os rins e o fígado.
Por que o DIU não foi inserido?
Ainda não se sabe o motivo pelo qual o DIU não foi inserido no útero de Geana. Além disso, não foi esclarecido se a defensora fez o exames prévios necessários para a realização do procedimento. A Polícia Civil investiga se Mayra cometeu alguma imperícia ou imprudência na tentativa de inserção do dispositivo na paciente.
Em nota, divulgada no dia da morte da defensora, Mayra classificou o caso como “fatalidade” e disse que o óbito não tinha “relação com os atendimentos médicos realizados pela profissional”.
A médica tinha registro de ginecologista?
Mayra afirma ser pós graduada em ginecologia e obstetrícia. No entanto, não há nenhuma especialidade registrada no cadastro dela disponível no site do Conselho Regional de Medicina (CRM-RR).
Além disso, não há informação se ela possui Registro de Qualificação de Especialista (RQE) em ginecologia e obstetrícia.
👉 Entenda: O RQE é obrigatório para médicos que desejam se apresentar oficialmente como especialistas em determinada área e precisam ter concluído residência ou ter passado em prova específica da Sociedade Médica da área na qual deseja atuar.
Nas redes sociais, Mayra se apresenta como médica que atua com saúde da mulher. No perfil profissional dela no Instagram, há vários conteúdos sobre inserção de DIU, menopausa, saúde íntima feminina, ninfoplastia (cirurgia que muda o tamanho e as formas dos pequenos lábios vaginais), exame preventivo, implanon (contraceptivo hormonal em forma de implante subcutâneo), reposição hormonal e outros assuntos relacionados.
O g1 procurou a médica sobre o assunto e aguarda retorno.
Quem investiga o caso?
A morte da defensora é apurada em ao menos três órgãos: na Polícia Civil, numa investigação que apura se a médica cometeu homicídio culposo; na Promotoria de Justiça de Defesa da Saúde do Ministério Público (MP), que investiga se ocorreu alguma imperícia médica e/ou falha no atendimento hospitalar à Geana; e no CRM, onde foi aberta uma sindicância sobre o assunto.
Na Polícia Civil, o inquérito tramita no 1º Distrito Policial. O consultório de Mayra foi alvo de inspeção sanitária na última sexta-feira (28). De acordo com a delegada Jéssica Muniz, o objetivo era verificar as condições de biossegurança dos equipamentos utilizados no procedimento em Geana.
“Se apura como principal linha de investigação a prática do crime de homicídio culposo por possível negligência imperícia ou imprudência da médica que fez o procedimento de tentativa de inserção de DIU na paciente no dia 18 de março de 2025”, explicou a delegada.
Além disso, a médica também foi interrogada e testemunhas foram ouvidas pela polícia. “No momento, aguardamos a conclusão do laudo pericial do material biológico da vítima, realizado pelo Instituto de Medicina Legal,para darmos continuidade aos trabalhos, concluir as investigações e encaminhar o caso ao Ministério Público e à Justiça”, destacou Jéssica Muniz.
No MP, a promotoria tem acompanhado a investigação da Polícia Civil. Além disso, requisitou o prontuário da defensora à médica e também ao hospital onde ela morreu.
Procurado, o CRM não informou o andamento da sindicância.
Quem era Geana Aline de Souza?
Geana Aline de Souza tinha 39 anos. Ela era titular da vara de execução penal da Defensoria Pública de Roraima (DPE). Natural de Belém, capital do Pará, era formada em direito pela Universidade Federal de Roraima (UFRR), onde ingressou no ano de 2008 e se formou em 2013. Em seguida, trabalhou como servidora do Tribunal de Justiça de Roraima, onde ficou até ser convocada para DPE.
Geana Aline de Souza, de 39 anos, era titular da vara de execução penal da Defensoria Pública de Roraima (DPE)
DPE-RR/Divulgação
Nos primeiros cinco anos como defensora, foi titular da comarca de São Luiz, município ao Sul de Roraima. Desde 2022, trabalhava na garantia de direitos fundamentais para condenados cumprindo pena. Também era presidente da Associação das Defensoras e Defensores Públicos de Roraima (ADPER).
À frente da associação, Geana atuava na valorização e fortalecimento da função de defensor público. Além disso, ela também foi diretora da Associação Nacional das Defensoras e Defensores Públicos (ANADEP), onde contribuiu para o desenvolvimento e a defesa institucional da categoria.
Ela deixou um marido, o empresário Cláudio Rodrigues, de 40 anos, com quem era casada havia 8 anos. A defensora não deixou filhos, mas cuidava “com amor” dos dois enteados, filhos de Cláudio. “Meus filhos quando conheceram ela eram pequenos e ela me ajudou muito”, disse o empresário.
A morte de Geana também foi lamentada pela DPE-RR. O órgão destacou o comprometimento da defensora com com a justiça e a defesa dos direitos dos mais vulneráveis.
“Roraima perde uma defensora incansável. Seu legado e exemplo permanecerão vivos em nossa memória”, lamentou, por meio de nota.
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