Josyara propaga palavras e ritmos ao redor do sol que ilumina ‘Avia’, álbum autoral de sonoridade e poética quentes


Josyara alinha oito músicas autorais no fluxo do álbum ‘Avia’ entre regravações de composições de Anelis Assumpção e Cátia de França
Juh Almeida / Divulgação
♫ OPINIÃO SOBRE DISCO
Título: Avia
Artista: Josyara
Cotação: ★ ★ ★ 1/2
♬ É estranho que Josyara abra um álbum essencialmente autoral como Avia – no mundo a partir de amanhã, 11 de abril – com música de lavra alheia, Eu gosto assim (2014), lançada há onze anos pela autora Anelis Assumpção com toque de latinidade. E é mais estranho ainda que essa faixa seja o ponto mais alto do disco gravado com (primorosa) produção musical orquestrada pela própria Josyara com Rafael Ramos.
Fica a impressão de que Eu gosto assim é música que nasceu para ser gravada por essa baiana de Juazeiro (BA), dona de um violão manso e furioso, de toque percussivo, evidenciado no álbum Avia sobretudo na cadência bonita da música De samba em samba, faixa bafejada pelos sopros arranjados por Josyara com o trompetista Diogo Gomes.
É o violão de Josyara que abre a gravação de Eu gosto assim e, por consequência, abre o disco. No anterior álbum autoral da artista, ÀdeusdarÁ (2022), o violão de Josyara foi abafado pelo baticum afro-baiano proeminente nesse disco. Em Avia, o violão está lá, não soberano, mas com mais destaque, em interação com os toques de músicos como Alberto Continentino (baixo), Kainã do Jêje (percussão) e Rodrigo Tavares (piano e teclados).
Esse time de virtuoses produziu um som quente. Avia irradia calor na sonoridade que valoriza repertório composto por oito músicas autorais e pelas recriações da já mencionada Eu gosto assim e da já conhecida abordagem de Ensacado (1979), parceria da compositora paraibana Cátia de França com o poeta e letrista Sérgio Natureza.
Música revivida pela nova baiana com a conterrânea Pitty, parceira na inédita Sobre nós, Ensacado faz sentido no roteiro afogueado do álbum Avia porque o canto de Josyara é árido mesmo quando doce, ecoando a força feminina do sertão nordestino.
É com a temperatura quente do disco que escorre Seiva, parceria de Josyara com Iara Rennó que exala lembrança de gozo em conexão com a poética do álbum que projetou a artista, Mansa fúria (2018), disco embebido em saudades de lugares e pessoas.
Josyara sofre sem lamento. Se expia a dor do abandono em Festa nada a ver, a cantora deixa escorrer a mágoa no fluxo de Corredeiras.
Eu não sou prova de amor é samba composto por Josyara com Juliana Linhares e gravado em Avia com menor poder de sedução no conjunto da obra. Na sequência, Peixe coração – parceria de Josyara com Liniker, autora da letra – é faixa de poética ardente mergulhada em águas revolvidas com força rítmica.
No arremate do disco Avia, editado pela gravadora Deck, Oasis (a duna e o vento) é canção que junta as vozes de Josyara com Chico Chico. Em suma, neste álbum invariavelmente pautado pela quentura do som, Josyara segue em frente, propagando palavras (as próprias e as alheias) com ritmo ao redor de um sol a pino.
Capa do álbum ‘Avia’, de Josyara
Juh Almeida
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