

Marcos Ramos foi preso em dezembro na operação Pecados Capitais, que apurou desvio de dinheiro público em Florianópolis – Foto: Reprodução/Instagram/ND
O STJ (Superior Tribunal de Justiça) revogou a prisão preventiva de Marcos André Pena Ramos, na última sexta-feira (11). O ex-dirigente de entidades sem fins lucrativos é investigado por desviar dinheiro público destinado a projetos sociais em Florianópolis, como o Restaurante Popular.
Marcos Ramos estava preso preventivamente desde 6 de dezembro de 2024, suspeito dos crimes de peculato, lavagem de dinheiro e organização criminosa. O pastor foi apontado como líder do esquema de corrupção na operação “Pecados Capitais”, da Polícia Civil de Santa Catarina.
Os desvios de verbas teriam ocorrido entre 2020 e 2022, quando ele era diretor do Nurrevi (Núcleo de Recuperação e Reabilitação de Vidas), responsável pela gestão da Passarela da Cidadania, e vice-presidente do Instituto Aminc (Amor Incondicional), terceirizada que gerenciava o Restaurante Popular de Florianópolis.
O TJSC (Tribunal de Justiça de Santa Catarina) já havia negado o pedido de habeas corpus apresentado pela defesa, sob entendimento de que, em liberdade, Marcos Ramos poderia interferir no depoimento de testemunhas e na colheita de provas acerca do desvio de dinheiro público.
Os advogados recorreram ao STJ e alegaram constrangimento ilegal, apontando que a decisão judicial não tinha fundamentação e que o cliente era o único preso entre onze investigados pelos mesmos delitos.
Veja as medidas cautelares impostas a Marcos Ramos nesta terça-feira
O ministro do STJ, Joel Ilan Paciornik, concedeu habeas corpus e considerou que a prisão preventiva foi decretada “sem elementos robustos e suficientes que justifiquem a imprescindibilidade da medida para a garantia da ordem pública”.
Dessa forma, o ministro determinou a substituição da prisão por medidas cautelares mais brandas, a serem aplicadas pelo juízo de origem. As medidas foram estabelecidas nesta terça-feira (15) pelo juiz Elleston Lissandro Canali, da Vara Criminal da Região Metropolitana da Comarca da Capital.

Decisão do ministro do STJ ressaltou os princípios da presunção da inocência e a excepcionalidade da prisão antecipada – Foto: MPAP/Divulgação/ND
Investigado por desvio de dinheiro público, Marcos Ramos deve cumprir as seguintes determinações judiciais, sob risco de restabelecimento da prisão preventiva:
- Comparecimento a cada três meses, perante o juízo, para informar e justificar suas atividades;
- Proibição de acesso à Aminc, à Passarela da Cidadania e à Nurrevi;
- Proibição de ausentar-se da comarca de seu domicílio por mais de 15 dias sem prévia justificativa e autorização do juízo;
- Suspensão do exercício de função pública em qualquer órgão da administração pública direta ou indireta, bem como suspensão do exercício de cargo ou função em paraestatais;
- Suspensão do direito de contratar com o poder público ou com paraestatais, seja diretamente ou por pessoa jurídica da qual integre o quadro societário, durante a tramitação da ação penal.
Em nota ao ND Mais, os advogados Marcus Scher e Mattheus Urbanek, que representam o pastor, afirmam que receberam a notícia da decisão do STJ “com muita tranquilidade” e que continuam focando em esclarecer os fatos para que ele seja absolvido das acusações de desvio de dinheiro público.

O esquema de corrupção consistia no desvio de dinheiro público destinado à Passarela da Cidadania e ao Restaurante Popular – Foto: Vivian Leal/ND
“Tal decisão apenas confirma que o que foi pleiteado desde o início em favor do Sr. Marcos é embasado em fundamentação concreta, suficiente para restabelecer a liberdade dele”, reitera a defesa.
“Além disso, por se tratar de réu primário, sem qualquer registro de antecedentes criminais, comprometido com o esclarecimento dos fatos, não havia razão para a manutenção da prisão, como bem reconhecido pelo STJ”, diz a nota.
Quem é Marcos Ramos, pastor suspeito de liderar esquema de desvio de dinheiro público em Florianópolis
Marcos Ramos não ostenta uma vida de luxo nas redes sociais e publica fotos ao lado da família, com roupas simples, frases motivacionais e passagens da Bíblia. Contudo, ele possui bens que, somados, ultrapassam o valor de R$ 5 milhões.
A investigação da Polícia Civil apontou que a fortuna é incompatível com a remuneração. A evolução patrimonial dele foi “meteórica e sem justificativa” desde que começou a trabalhar no Nurrevi.

Evolução patrimonial de Marcos Ramos foi “meteórica e sem justificativa”, segundo a polícia – Foto: Reprodução/Instagram
As duas instituições que dirigiu receberam, juntas, o equivalente a R$ 40 milhões da Prefeitura de Florianópolis entre 2020 e 2022. O inquérito expôs que os valores estavam acima dos serviços que eram de fato prestados.
Segundo a polícia, o pastor era o principal beneficiado com os superfaturamentos e teria contribuído para inúmeras irregularidades, que acarretaram prejuízo de cerca de R$ 1 milhão ao município.
Os recursos oriundos do desvio de dinheiro público seriam lavados através do superfaturamento na contratação de diversos serviços para os projetos, como lavanderias, transportes, manutenção e compras de equipamentos.

Jeferson Melo teria aberto editais de fachada para favorecer entidades e desviar verbas de projetos sociais em Florianópolis – Foto: Redes Sociais/Reprodução/ND
O ex-secretário adjunto da Assistência Social, Jeferson Amaral da Silva Melo, também foi preso na operação “Pecados Capitais” e solto em seguida. Ele seria responsável pela abertura de editais de gestão, em que somente as entidades ligadas a Marcos Ramos demonstraram interesse nos projetos sociais.
Jeferson Melo teria alguns privilégios em troca de escolher as entidades, como a seleção de quem trabalharia nos projetos, reuniões para tomadas de decisão nas ONGs e parte do desvio de dinheiro público. As verbas, portanto, seriam desviadas pela secretaria e apossadas pelas empresas do pastor.