Prevenção, mudança e união: os caminhos para a saúde suplementar até 2030

Prevenção: é essa a receita que o médico oncologista Drauzio Varella prescreve para o sistema de saúde suplementar brasileiro. O médico e escritor foi um dos palestrantes do 27º Congresso da Associação Brasileira de Planos de Saúde (Abramge) nesta quinta-feira (21/9). Na visão dele, o caminho para equalizar os custos da saúde é investir mais em ações de prevenções.

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“Nós temos essa situação hoje de todos contra todos. O usuário acha que está dando dinheiro para o dono da operadora. A operadora tem essas desconfianças de que se investir, por causa da grande rotatividade, o investimento vai beneficiar outro. Um sistema em que todo mundo se odeia, que todo mundo pode jogar a culpa no outro, não pode dar certo”, disse Varella, que foi aplaudido com entusiasmo pela plateia de cerca de 700 pessoas no hotel Unique em São Paulo.

O Congresso neste ano tem como tema a discussão sobre o futuro da Saúde em 2030. Na mesa de abertura, o presidente da Abramge, Renato Casarotti, traçou um panorama do cenário atual da saúde suplementar no país. Na visão dele, o setor atravessa um momento desafiador, ao enfrentar prejuízos operacionais nos dois últimos anos e também no primeiro semestre de 2023. 

“Sempre que esses dados são levantados, vejo reações catastróficas e reações muito otimistas. Não é assim. Não é nem o fim do mundo, nem um mar de almirante. É desafiador, mas vejo um caminho”, disse o presidente.

Para além dos prejuízos operacionais, Casarotti mencionou como pontos de atenção o crescente número de fraudes e de pedidos de reembolso, que quadruplicaram de 2019 a 2023.  

As novas tecnologias na área da saúde também foram citadas por ele como um ponto de preocupação para as operadoras. “É difícil incorporar as inovações no volume e na intensidade que elas vêm chegando, mas não podemos restringir ou limitar o acesso das pessoas a essas novidades”, disse, acrescentando que está claro pelas projeções que a conta para aplicar essas novas tecnologias para um número cada vez maior de pessoas não fecha. 

O presidente da Abramge ainda falou sobre um tema tabu: o tratamento continuado de transtornos como, por exemplo, o do espectro autista. Casarotti disse que houve um aumento “exponencial” das despesas com esse tipo de terapia no último ano e que, a princípio, isso impactou as operadoras pequenas e hoje já afeta até mesmo as maiores. “Associados de grande porte tiveram, nos últimos três ou quatro meses, as despesas com esse tipo de terapia superando as despesas com oncologia. Isso é muito significativo, já que nos últimos dez anos a oncologia foi a área com maior gasto”, disse.  

Os pontos levantados na abertura do evento ressoaram pelos painéis ao longo do dia. Paulo Rebello, presidente da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), disse não acreditar que o caminho para solucionar os problemas seja buscar culpados. “Se não dermos um passo objetivo para as mudanças, nós novamente teremos uma adaptação nesse setor. Não acredito no profeta do apocalipse de que [o setor] vai acabar, mas pode haver uma concentração como resposta à situação que estamos vivendo hoje”.

O ex-ministro da Saúde Nelson Teich concorda com a visão de que o sistema de saúde não irá quebrar. Para ele, um sistema de saúde não quebra, ele tira acesso dos beneficiários. Na apresentação, o ex-ministro defendeu que a chave para solucionar os problemas seria investir mais na coleta e análise de dados das pessoas.

“Quando se fala de câncer na mulher, a discussão é sempre sobre câncer de mama e de colo de útero. Mas o segundo câncer que mais mata mulheres é o de pulmão. O terceiro é o colorretal. Um projeto sobre câncer de mulheres não pode ignorar esses dados. O gestor tem que enxergar o que não é óbvio e a única forma de você fazer isso é criando um grande banco de dados e informações”, disse Teich.

O ex-ministro argumentou que a inovação sozinha não é a saída para solucionar as ineficiências do sistema, especialmente porque elas demandam mais recursos financeiros, profissionais mais qualificados, equipamentos e custos de manutenção”. “Quem vai definir o futuro da saúde são as pessoas, os gestores. A melhora do sistema depende 100% das pessoas, porque o custo da saúde só vai aumentar”, afirmou.

Adriano Londres, da consultoria Arquitetos da Saúde, aproveitou a sua apresentação durante a tarde para provocar o setor a pensar sobre a falta de união e de projetos conjuntos. “”Qual é o papel da saúde suplementar na saúde brasileira? Nunca vi esse documento. E aí a gente reclama quando decidem por nós. Eu nunca vi um documento escrito em conjunto, para quando vierem fazer ingerência no setor”, criticou o economista.

Londres afirmou que é preciso que as operadoras mantenham um diálogo mais próximo com os representantes das empresas que contratam os planos de saúde hoje elas são responsáveis por mais de 70% dos contratos do setor. Para ele, os debates na área da saúde precisam deixar de girar em torno somente do preço e focar também nos resultados que são entregues pelo serviço. “Não tem saída para a saúde suplementar se a gente não envolver a sociedade e explicar algumas das particularidades do setor”, disse.

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