Fotógrafo flagra uiraçu com plumagem rara em Rondônia; entenda os 3 tipos de ‘morfos’ da espécie

Morfo claro, escuro e escuro extremo são as colorações conhecidas. Ave de rapina é considerada a mais difícil de ser avistada no Brasil. Fotógrafo flagra uiraçu com plumagem rara em Rondônia; entenda os 3 tipos de ‘morfos’ da e
Encontrar um uiraçu (Morphnus guianensis) na natureza é o sonho de muitos observadores de aves e amantes da fauna. A espécie é discreta e arisca, sendo conhecida como “ave fantasma” pela dificuldade de ser vista. “É meio que unanimidade entre os ornitólogos (biólogos especialistas em aves) que o uiraçu é a ave de rapina brasileira mais difícil de ser encontrada na natureza”, explica o especialista em aves de rapina Willian Menq.
“O apelido de ave fantasma é porque apesar de ela ter uma ampla distribuição geográfica em toda a América do Sul, é difícil de avistá-la, mesmo sendo um bicho grande, por conta do comportamento de não planar, raramente vocalizar e ficar longos períodos parada nos galhos altos. Somado a isso, ainda tem o fato de ser uma ave com baixa densidade populacional”, diz Menq.
Morfo claro é a plumagem “mais comum” do uiraçu
Priscilla Diniz
Todos esses fatores justificam a felicidade de qualquer um que tem a sorte de ver o bicho em vida livre. Mas o fotógrafo de natureza e voluntário do Projeto Harpia, Carlos Tuyama, é um ponto fora da curva. Por dedicar bastante tempo no monitoramento de ninhos de harpia e outras aves de rapina na Amazônia, ele já conseguiu observar a espécie outras sete vezes.
Há dois meses, um encontro ainda mais raro com a falsa-harpia, como também é conhecido o uiraçu, surpreendeu mesmo ele, que já conhece bem a espécie.
Uiraçu melânico foi avistado no Pará
Carlos Tuyama
“Eu estava com colegas na zona rural de Rolim de Moura (RO), numa atividade do Projeto Harpia. Nossa intenção ali era fazer buscas de um possível ninho de harpia, ou mesmo de uiraçu, pois naquela localidade há alguns registros de ambas as espécies”, explica Carlos.
“Fizemos o que chamamos de playback, ou seja, colocamos a vocalização gravada das aves para tocar em uma pequena caixa de som, tentando atrair aquelas espécies que procuramos. Depois de algum tempo, notei no alto de uma árvore próxima a silhueta daquela magnífica águia”, relembra.
Era um uiraçu, mas diferente. Esse não possuía a cabeça e o pescoço acinzentado, o peito barrado claro e o dorso escuro como, geralmente, são as aves dessa espécie. No geral, a pelagem inteira era mais escura.
“Quando eu vi, de longe, logo imaginei que fosse um uiraçu melânico, na hora já sabia que aquele era um encontro especial. Uma daquelas oportunidades que talvez você não tenha outra na sua vida. Fui me aproximando cuidadosamente para não espantar o bicho, fazendo fotos, e a cada passo ia confirmando que era mesmo o raríssimo uiraçu negro”, relembra.
Animais melânicos possuem uma maior quantidade de melanina, o que altera a coloração da plumagem. Aves com variações na plumagem são chamadas de morfo.
Morfo escuro é uma das variações de pelagem do uiraçu
Carlos Tuyama
Tuyama comentou ainda que situações como essa não são fáceis para quem fotografa, já que a emoção costuma impedir a lembrança de uma série de detalhes que, se não lembrados, podem comprometer a qualidade da imagem.
“Mas, ao final, vendo os registros, acho que deu tudo certo. Acreditamos que era uma fêmea adulta, dado o seu porte e sua plumagem. Isso nos deixa ainda mais esperançosos, pois talvez ela tenha um ninho ali, bem próximo do local. Quem sabe um dia não tenhamos boas novas, de um ninho de uiraçu melânico’, diz ele.
“Tradicionalmente, essas alterações de cor (indivíduos morfos) podem ser consideradas uma adaptação evolutiva para alternância de condições extremas ou para a maior ocupação de diferentes habitats e nichos. As altas taxas de polimorfismo de coloração – fenômeno que explica a existência de um ou mais morfos dentro de um grupo -, principalmente em aves de rapina, podem ser interpretadas também como um reflexo da baixa pressão seletiva pela predação que essas aves sofrem”, explica a bióloga e zoóloga Aline Corrêa.
Morfo escuro extremo é a variação de pelagem mais rara do uiraçu
Victor Castro
O uiraçu visto por Carlos tinha um dos três padrões de coloração diferentes conhecidos pela espécie. “Na fase adulta, o uiraçu tem três padrões de plumagens que são conhecidos. Tem o padrão morfo claro que é o mais comum, com o ventre claro, cabeça meio cinzenta com o dorso escuro. Aí tem o padrão morfo escuro que é esse que o Carlos Tuyama fotografou, quando a ave é bem negra com o ventre barrado de branco. Esse é mais raro que o claro e tem ainda um terceiro padrão que é o mais raro de todos, que é chamado de morfo escuro extremo. Esse não é raro, é raríssimo”, explica.
Biólogo flagra uiraçu com plumagem mais rara no Pará
Em 2015, o biólogo Victor Castro estava em Vitória do Xingu, no Pará, realizando um trabalho em uma trilha de 20 km no meio da Amazônia. No fim do trajeto, durante uma chuva intensa, ele e um colega começaram a escutar um assobio bem fino.
“Ficamos ali por horas andando debaixo da mata, olhando para cima e tentando identificar a ave que era, mesmo a gente suspeitando ser o uiraçu, porque naquela época quase não tinha muita informação sobre os morfos da espécie e quando vimos foi uma surpresa muito grande, realmente era um uiraçu morfo negro extremo”, conta.
Castro conseguiu também o feito de observar e fotografar todos os morfos da espécie, na época, sendo o primeiro a divulgar esses registros na internet.
Independente da coloração, o uiraçu é um animal raro de ser encontrado e que precisa de proteção. A espécie é classificada como “vulnerável” na lista brasileira de animais ameaçados de extinção, elaborada pelo ICMBIO.
Conheça os três indivíduos morfos do uiraçu
Arte TG
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