Acusado de assassinar menino palestino foi amigo da família e costumava brincar com o garoto, diz avô

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Centenas de pessoas se reuniram em uma quadra de basquete em Plainfield, Illinois, nos Estados Unidos, na terça-feira (17), para marcar o amor de Wadea Al-Fayoume pelo esporte, em homenagem ao menino palestino-americano de 6 anos que, segundo as autoridades, foi esfaqueado até a morte por ser muçulmano.

O pai do menino, Oday Al-Fayoume, falou brevemente à multidão em árabe, explicando que muito do que sabe da língua inglesa aprendeu com o filho.

“Com a morte de Wadea, acho que não há mais espaço para eu falar inglês”, disse.

Ele apontou para uma foto exposta de seu filho comemorando o aniversário dias antes de ser morto e perguntou: “Você sabe o que Wadea está fazendo nesta foto?”.

“Ele estava esperando que eu completasse a metade do coração que estava fazendo”, disse o pai, levantando a mão e curvando os dedos para completar o formato de um coração.

Wadea foi esfaqueado 26 vezes em sua casa pelo proprietário do imóvel no sábado (14), disse o Gabinete do Xerife do Condado de Will. Sua mãe, Hanaan Shahin, de 32 anos, também sofreu mais de uma dúzia de facadas, mas sobreviveu, disseram as autoridades.

A mãe e o filho foram “alvo do suspeito por serem muçulmanos e pelo conflito em curso no Oriente Médio envolvendo o Hamas e os israelenses”, disse o gabinete do xerife.

O suspeito de 71 anos foi acusado de homicídio e crimes de ódio, entre outras acusações. O ataque também está sendo investigado pelo Departamento de Justiça como crime de ódio.

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Wadea nasceu nos Estados Unidos e seus pais são de um vilarejo na Cisjordânia, de acordo com o escritório do Conselho de Relações Americano-Islâmicas em Chicago.

“O que você vê é um garoto totalmente americano”, disse Juhie Faheem, membro do Conselho de Saúde Mental do Condado de Will.

“Ele não usava uma placa ou colar afirmando que era muçulmano. Ele tinha um sorriso no rosto, afirmando que era uma criança – uma criança cheia de amor e não de ódio.”

Várias crianças participaram na vigília de terça-feira, incluindo um menino que segurava uma placa que dizia: “Não sou uma ameaça”, com um desenho colorido de uma bandeira palestina.

Cynthia Glass, mãe do melhor amigo de Wadea, falou em meio às lágrimas sobre como seu filho Dexter era principalmente não-verbal e “Wadea” foi uma de suas primeiras palavras.

“Trata-se de dois meninos que nunca mais poderão brincar juntos. Eles nunca mais poderão sentar um ao lado do outro na aula. Eles nunca mais poderão andar de ônibus juntos”, disse a mãe.

“Precisamos aprender com essas duas crianças tão queridas”, disse Glass, recebendo um abraço do pai de Wadea.

A vigília teve um momento de silêncio e oração, liderado por Imam Hassan Aly.

“Wadea é um nome que significa pacífico, mas ele não conseguiu experimentar a paz neste mundo”, disse Aly.

“Mas acreditamos firmemente que ele agora descansa em paz eterna ao lado das crianças inocentes de Gaza e de outras crianças e civis inocentes que recentemente perderam as suas vidas devido à violência.”

O funcionário muçulmano de mais alto escalão na administração Biden, Dilawar Syed, da Administração de Pequenas Empresas dos EUA, também esteve presente na terça e falou em nome do presidente.

“O presidente Biden foi muito, muito claro. Não há lugar para o ódio na América”, disse Syed à multidão.

“O Presidente fez e continuará a fazer tudo o que estiver ao seu alcance para combater a islamofobia e o antissemitismo na nossa nação.”

Syed foi interrompido por gritos antes que os organizadores pedissem calma, e um representante do Centro Comunitário local de Al-Aqsa disse que o foco deveria estar na vítima.

“Antes de Wadea ser palestino, americano ou muçulmano, ele era humano, e isso nos une”, disse.

A família era amiga do suspeito

O proprietário do imóvel em que a família de Wadea morava, Joseph M. Czuba, é acusado de homicídio em primeiro grau, tentativa de homicídio em primeiro grau, duas acusações de crime de ódio e agressão agravada com arma mortal, disse o Gabinete do Xerife do Condado de Will.

Joseph M. Czuba é suspeito de ter matado um menino de 6 anos nos EUA / Reuters

Um homem que se descreveu como um avô do menino disse que o suspeito do assassinato de Wadea já havia sido amigo da família e eles ficaram chocados quando souberam do ataque.

“Este senhor era, na verdade, um dos melhores amigos da família. Ele costumava amar o garoto. Ele costumava trazer brinquedos para ele. Ele costumava brincar e passar muito tempo com aquele garoto. Ele o tratou como um neto, mas infelizmente a mensagem errada quando se trata de certas pessoas, torna-se uma máquina de matar”, disse o homem durante a vigília de terça.

A família do menino morou na casa por dois anos sem “problemas anteriores” com Czuba, disse o Conselho de Relações Americano-Islâmicas. Então, em 11 de outubro, Czuba disse que queria que Wadea e sua mãe saíssem de casa, disse a esposa aos investigadores, de acordo com um documento judicial de segunda-feira (16).

A esposa também disse aos investigadores que Czuba “acreditava que eles estavam em perigo e que Shanin iria chamar seus amigos ou familiares palestinos para prejudicá-los”, de acordo com o documento.

Shahin disse às autoridades, de acordo com o processo, que em 11 de outubro, Czuba também a confrontou “sobre o que estava acontecendo no Oriente Médio”.

A mãe do jovem assassinado também disse às autoridades que no sábado, momentos antes do início dos esfaqueamentos, Czuba lhe disse que estava zangado com ela pelo que estava acontecendo em Jerusalém.

Shahin afirmou que ela respondeu a ele “vamos orar pela paz”.

A mulher de 32 anos afirmou que Czuba não lhe deu chance de fazer nada e afirmou que o homem a atacou com uma faca, segundo o processo.

Shahin disse à polícia que conseguiu escapar trancando-se no banheiro próximo, mas não conseguiu pegar o filho.

Enquanto estava lá, ela chamou a polícia, de acordo com o processo.

“Enquanto falava ao telefone com o 911, Shanin afirmou que seu filho estava sendo esfaqueado”, dizia o documento.

Os policiais qencontraram Czuba sentado no chão, perto da entrada da casa. A mãe e o filho foram encontrados em um quarto.

“Ambas as vítimas tiveram múltiplas facadas no peito, tronco e extremidades superiores”, disse o Gabinete do Xerife do Condado de Will.

Eles foram levados às pressas para um hospital, onde o menino foi declarado morto, dizia o documento.

Um juiz ordenou que Czuba fosse detido sem fiança. Sua audiência preliminar está marcada para 30 de outubro.

“Mãe, estou bem”

Como outras crianças de sua idade, Wadea gostava de brincar, colorir e jogar qualquer jogo com bola, disse Rehab, do Conselho de Relações Americano-Islâmicas.

Ele foi descrito como uma criança calorosa e gentil, que se concentrava em aproveitar a vida com os amigos e brincar ao ar livre, e que amava profundamente os pais e a família.

“Ele amava seus pais, amava sua família e seus amigos, amava a vida e ansiava por uma vida longa, saudável e próspera”, disse Rehab.

Antes de morrer, Wadea ofereceu palavras de conforto à sua mãe, disse o homem que se autodenominava uma espécie de avô na segunda.

“Suas últimas palavras para a mãe: ‘Mãe, estou bem”, disse o homem aos repórteres. “Quer saber, ele está bem. Ele está em um lugar melhor.”

A mãe do menino não pôde comparecer ao funeral na segunda-feira (16) porque permaneceu no hospital, disse Rehab.

A mãe está “lidando com suas lesões, com seu trauma emocional e com o maior buraco que nunca poderá ser preenchido, a maior lacuna de todas, a perda de seu filho”, acrescentou.

Este conteúdo foi originalmente publicado em Acusado de assassinar menino palestino foi amigo da família e costumava brincar com o garoto, diz avô no site CNN Brasil.

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