China vê escalada da guerra como oportunidades para aumentar influência geopolítica, dizem especialistas

Com a recente escalada de conflitos no Oriente Médio – e uma possível intervenção dos Estados Unidos não descartada -, grandes oportunidades geopolíticas emergem para a China, segundo especialistas

Para Marcus Vinicius De Freitas, professor da China Foreign Affairs University, a pragmática diplomacia chinesa é a grande favorita para o cargo de mediadora do conflito, principalmente após o envio de armamentos americanos a Israel.

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“A China encara o assunto como uma questão territorial, não religiosa. Com isto, ela reafirma a questão dos dois Estados e a necessidade do multilateralismo na resolução da questão, fortalecendo-se a ONU. A China se transforma no único mediador que vê no multilateralismo a solução do problema’’, concluiu o professor.

Outra justificativa para o favoritismo chinês em se tornar mediador do confronto seriam as recentes vitórias da diplomacia de Pequim, como o acordo Irã-Arábia Saudita, além do contraste com a atuação norte-americana na região.

“Após o acordo Irã-Arábia Saudita, os países poderão contrastar a atuação diplomática chinesa com a norte-americana e entender a China como menos intervencionista e mais propensa ao diálogo do comércio que a imposição da baioneta”.

O professor também sugere que, com a escalada dos conflitos em Israel, irá acontecer um ajuste nas prioridades geopolíticas americanas, potencialmente afetando a estratégia indo-pacífica e diminuindo a influência dos Estados Unidos na Ásia, continente predominantemente dominado pela China.

“Os Estados Unidos – que há muito pretendem desengajar-se do Oriente Médio – serão obrigados a atuar mais intensamente na região. Com isto, a estratégia indo-pacífica fica prejudicada ou reduzida, reduzindo-a interferência norte-americana na Ásia deverá reduzir”.

China e Irã

No epicentro desta discussão, encontra-se a estreita relação entre a China e o Irã, que se fortaleceu ao longo dos anos. Em 2021, o comércio bilateral entre as nações atingiu a marca de aproximadamente US$ 20 bilhões.

Além disso, em 2021, os aliados assinaram um acordo de cooperação estratégica de 25 anos, que fará com que a China invista de US$ 400 bilhões a US$ 600 bilhões em diversos setores da economia iraniana.

Para Uriã Fancelli, mestre em Relações Internacionais, o interesse dos chineses com essa aproximação não é apenas diplomático.

“A China também se interessa em limpar a própria imagem em relação aos Uyghurs, grupo de 12 milhões de muçulmanos que vivem na província de Xinjiang. Ao se colocar como protetor do povo palestino, ou dos muçulmanos, a China tenta se blindar da imagem de perseguidora de muçulmanos”, concluiu.

“Além disso, a China foi quem quis trazer o Irã para o Brics para mantê-lo por perto, o que pode ser interpretado por muitos como um alinhamento muito mais pró-Irã”, disse Uriã.

A missão do Irã nas Nações Unidas emitiu um comunicado considerando o recente ataque em Israel “fortemente autônomo e inabalavelmente alinhado com os interesses legítimos do povo palestino”.

Diante do atual conflito, Pequim se encontra à frente de um delicado exercício diplomático, buscando manter laços estratégicos com Teerã sem comprometer sua postura de mediador internacional.

Este conteúdo foi originalmente publicado em China vê escalada da guerra como oportunidades para aumentar influência geopolítica, dizem especialistas no site CNN Brasil.

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