Em cinco anos, Unicamp registra 131 estudantes com mais de 40 anos matriculados na graduação: ‘Troca de saberes e experiências’

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Comissão considera estatísticas de 2019 a 2023, e diretor diz que diversidade melhora nível universitário. Relatos contemplam, sonhos, auxílio para comunidade e ascensão na carreira. Bráulio Souza ingressou em história na Unicamp aos 40 anos
Bráulio Souza/Arquivo Pessoal
A Unicamp registrou 131 estudantes com mais de 40 anos matriculados em cursos de graduação entre as edições 2019 e 2023 do vestibular, segundo a comissão organizadora dos exames (Comvest).
A quantidade significa extrapolar preenchimento de quase três salas de aula e estímulo para combate ao etarismo: reúne histórias inspiradoras de quem decidiu retomar um sonho, busca ascensão na carreira ou viajou milhares de quilômetros até Campinas (SP) para ajudar a própria comunidade.
O levantamento da universidade, a pedido do g1, mostra média de 26 ingressantes a cada edição. Deste total de novos alunos, 90 permanecem em estudos na Unicamp, o equivalente a 68,7%.
Perfil da universidade
A quantidade, ainda pouco expressiva em termos percentuais diante do total de 3,2 mil matriculados por ano, reflete, em parte, o perfil da universidade estadual. Além de ser historicamente uma das mais concorridas do país, ela oferta praticamente 70% das vagas da graduação durante período integral.
“Isso afasta as pessoas com mais de 40 anos que, em geral, já estão dentro do mercado de trabalho, tem uma responsabilidade pessoal com a vida, e isso inviabiliza a dedicação a um curso”, avaliou o historiador e diretor da Comvest, José Alves de Freitas Neto, ao ponderar sobre o contexto econômico.
No entanto, ele valorizou os benefícios de a universidade receber “estudantes mais experientes”.
“Eu considero que toda forma de diversidade melhora o nível universitário. É muito bom ter alunos mais velhos, às vezes com o dobro da idade dos outros ingressantes, porque eles agregam na sua maturidade, no seu olhar até mesmo desconfiado em relação a algumas manifestações juvenis em sala de aula. A troca de olhar, cumplicidade entre o professor e o aluno mais velho, também ajuda a entender como é bonita a experiência da vida universitária e tudo que está sendo apresentado”.
O diretor da Comvest da Unicamp, José Alves de Freitas Neto
Felipe Bezerra/SEC Unicamp
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Mercado de trabalho
O presidente da Associação Brasileira de Recursos Humanos em São Paulo, Luiz Drouet, avaliou que há uma tendência de continuidade e crescimento do número de pessoas que ingressam na universidade mais tarde não somente em virtude da questão financeira, mas também pessoal.
“As gerações que estão no mercado de trabalho vão precisar trabalhar por mais tempo, seja por necessidade, tem a questão da previdência, mas também porque a gente tem ressignificado a relação com o trabalho. Lá atrás era basicamente fonte de renda e cada vez mais tem sido comprovado a importância do trabalho como fonte de realização”, ponderou.
Com isso, segundo ele, a tendência é impulsionada por histórias de quem não conseguiu eventualmente cursar o que gostaria no início de carreira por falta de recursos financeiros à época, e também por pessoas que decidem realizar transições no mercado de trabalho. “Às vezes iniciou como engenheiro, por que não virar médico e trabalhar mais 20 anos com essa atividade?”, ressaltou ao lembrar que a dinâmica também é influenciada pelo fim de algumas atividades e surgimento de novas.
Sonho, carreira e comunidade
Claudio Valente, de 58 anos, está no penúltimo ano do curso de medicina. Antes disso, fez graduação em engenharia mecânica e trabalhou por três décadas em indústrias metalúrgicas.
Casado e pai de quatro filhos, ele se mudou de São Bernardo do Campo, no ABC Paulista, para Campinas em busca da realização de um sonho antigo. “Não dar ouvidos para quem tem conotação negativa, acreditar em si mesmo e se esforçar demais”. Clique aqui e veja a íntegra da entrevista.
A servidora pública Jacqueline Teixeira Chaves ingressou na Unicamp no ano passado, aos 54 anos, para estudar letras. Após trabalhar por 32 anos como agente de fiscalização na área de finanças, voltou às salas de aula com objetivo de se qualificar para a prática de educação de forma inclusiva.
“Eu preciso aprender para poder ensinar […] Entendo a universidade pública como mais um espaço de prática e interação social onde podemos trocar saberes e experiências […] Espero que venham mais pessoas e que, com isso, possam atuar na profissão desejada e ascender profissionalmente”, falou.
Ao entrar na graduação, ela também busca finalizar a primeira graduação. “Fiz outras incursões na Unicamp, campus de Limeira, gestão em políticas públicas, mas não concluí […] Sou privilegiada em estar na universidade pública, mesmo tardiamente”, ressaltou.
Jacqueline Chaves é estudante do curso de letras na Unicamp
Jacqueline Chaves/Arquivo Pessoal
Já Bráulio José de Souza decidiu ingressar em história, aos 40 anos, após percorrer 2,3 mil km entre Pariconha, no Sertão de Alagoas, até o interior paulista com propósito de ajudar a própria comunidade.
O ingresso dele na Unicamp ocorreu por meio do Vestibular Indígena, no ano passado. “O pouco que se sabe dos povos indígenas sempre foi escrito por outros. Quero contar a história da minha gente pelas minhas próprias palavras”. Confira aqui a entrevista completa.
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