Diretor brasileiro filma os três primeiros anos da vida de um menino e cria documentário

diretor-brasileiro-filma-os-tres-primeiros-anos-da-vida-de-um-menino-e-cria-documentario

A pedagoga Bianca Bethônico decidiu colocar em prática um desejo de muitas mães e pais: guardar um registro dos primeiros anos da vida do filho

A primeira infância de Ravi ganhou forma em um documentário, chamado “Dos 3 aos 3”. A lembrança dos anos que passaram será compartilhada nas telas de cinema a partir desta quinta-feira (4).

Como nasceu a ideia

Quando Ravi nasceu, Bianca convidou o artista plástico e cineasta Pablo Lobato para gravar o início da vida do garoto. Em entrevista à CNN, o diretor explica que, a princípio, fazer um documentário não passava pela mente da pedagoga.

“Ela queria registrar os primeiros anos da vida do filho para seus estudos. Então eu comecei a visitar a casa onde eles moravam para filmar. Com o tempo, o material ganhou corpo, poesia, e quis se tornar um filme”, conta.

Os primeiros passos, mordidas e quedas do bebê dividem tempo de tela com os depoimentos da mãe, que expõe seus dilemas e observações.

Bianca é uma estudiosa da pediatra Emmi Pikler, morta em 1984, e adotou a abordagem da húngara para criar o filho — antes de registrar os resultados.

Os estudos da autora com bebês e crianças foram realizados num orfanato, que mais tarde se tornou o Instituto Pikler Lóczy, e popularizaram a observação afetiva e cuidadosa na primeira infância.

Na abordagem Pikler, como ficou conhecida, os pais e cuidadores acolhem e protegem a criança, mas intervém menos. O objetivo é incentivar a autonomia e o desenvolvimento dos pequenos.

“Na época das filmagens, eu trabalhava no Ninho Jardim de Infância e fazia palestras para os pais sobre a abordagem. Usava vídeos com as crianças do Pikler Lóczy, mas sentia falta de ter um material próprio. Queria registrar o que via acontecer e falar da abordagem com mais propriedade”, diz Bianca.

Nas cenas de “Dos 3 aos 3”, temos acesso à íntegra do experimento que virou filme: Ravi engatinha na grama e pisa na lama, mexe no que vê pela frente e leva à boca para conhecer, ganha colo, cai, chora e se reergue.

“Isso também está no filme. Eu gosto de filmar com mais observação e menos intervenção, o que se assemelha à filosofia de Pikler”, conclui o diretor.

Ravi e a mãe, Bianca Bethônico / Divulgação/Embaúba Filmes

Um bebê entre câmeras

A casa e o quintal em que Ravi conhecia o mundo, em Belo Horizonte, ganhou, por algumas horas a cada semana, a presença de um novo elemento, distante do que normalmente habita a infância: a câmera.

Pablo Lobato explica que sua pretensão no processo era se ater a filmar, sem intervir, na rotina do garoto: “Eu não interagia [com Ravi] durante as filmagens, porque a troca impediria a observação.”

A experiência que já havia adquirido na produção de documentários antes de “Dos 3 aos 3”, diz ele, ajudou no cumprimento do objetivo: “Aprendi a me aproximar de lugares que não conheço e apenas observar, sem atrapalhar. Com a câmera, consigo ver coisas que, sem ela, não conseguiria”.

Anos depois, Ravi reencontra a infância

A maior parte do documentário retrata um bebê, mas as filmagens prosseguiram nas fases seguintes da vida de Ravi, que hoje tem 9 anos.

Ele, inclusive, já assistiu ao filme. “A reação foi engraçada. Ele ficou um pouco tímido ao se ver ali, pequeno, às vezes sem roupa, numa tela de cinema. Mas também brincou com isso”, relata Lobato, sobre o reencontro do protagonista com o início da própria vida.

Para o diretor, o tempo foi “um aliado” na produção de “Dos 3 aos 3”, permitindo que sua relação com o garoto e a mãe e o interesse pela abordagem de Emmi Pikler ganhassem profundidade.

O resultado dos intensos anos de observação poderá ser visto em cinemas das capitais São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Brasília, Curitiba, Palmas, Porto Alegre e Tocantins.

Este conteúdo foi originalmente publicado em Diretor brasileiro filma os três primeiros anos da vida de um menino e cria documentário no site CNN Brasil.

Adicionar aos favoritos o Link permanente.