Com Gaby Amarantos e versão tecnobrega de ‘Halo’, ritmo paraense marca presença na turnê de Beyoncé e viraliza

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Tecnobrega fez brasileiros dançarem na fila de Renaissance World Tour. Na platéia, Gaby Amarantos, ‘Beyoncé do Pará’, se emocionou. Pesquisador explica semelhanças das duas artistas. Tecnobrega faz brasileiros dançarem ritmo paraense na fila de show de Beyoncé na Europa
A música da periferia do Pará marcou presença no show da superstar Beyoncé, em Edimburgo, no Reino Unido, na Renaissance World Tour, no sábado (20). A cantora paraense Gaby Amarantos, que se tornou conhecida no Brasil como “Beyoncé do Pará” ao fazer versões tecnobrega de músicas da artista americana, também esteve na platéia e, emocionada, declarou sua admiração. Além dela, outros fãs de Bey aproveitaram até mesmo a fila do show e colocaram o hit “Halo” a tocar na batida do tecnobrega, surpreendendo quem aguardavam pelo espetáculo – veja acima. O vídeo viralizou.
“Estávamos na fila e os brasileiros levaram caixinha de som e passaram a colocar várias músicas da Beyoncé, em vários formatos e incluindo a Helo em tecnobrega. Não podia deixar de fazer um passinho com meu esposo. Mesmo com o aperto da fila, não deu pra ficar parado escutando nosso brega”, conta a paraense Alanna Joana.
“Sou ‘Papa Chibé’ mesmo, tenho um freezer de açaí congelado na minha casa na Irlanda. Como uma boa paraense,sempre danço brega.Tenho certeza que se a Beyoncé tivesse a oportunidade de conhecer a versão paraense da música Helo, iria querer aprender a dançar o nosso brega”, afirma a paraense de 34 anos, que há cinco mora na Irlanda.
Além da paraense Alanna, quem dançou o bregoso na fila foi o também brasileiro Bruno Sávio Nunes de Brito e seus amigos. O mineiro que há 6 meses vive na Escócia aparece nas imagens dançando com a amiga Karina Barret. “Fui com amigos que moram na Europa e alguns vieram do Brasil”, conta.
A ideia de colocar a música foi da amiga de Sávio, Thais Aguiar, paulista que mora em Londres. Ela usou a caixinha de som de Sávio para alegrar a fila.
“Assim que notei que tinha muito brasileiro na fila, tive a ideia de colocar a versão de Halo tecnobrega para ver a reação da galera porque essa versão qualquer brasileiro conhece”, conta Thais, que há 17 anos é fã de Beyoncé. Ela registra com uma amiga “tudo o que acontece na Renaissance’” em uma página de fãs brasileiros.
“Comecei a filmar a reação da galera, e foi a melhor possível! Todo mundo começou a dançar e o ânimo foi la em cima, de 0 a 100 em segundos. O brasileiro tem a melhor vibe do mundo, é surreal”, afirma Thais.
“Eles acharam estranho [no início]. Acho que a maioria achou legal, alguns ficaram com cara de ‘oi?’, mas no fundo acho que todo mundo gosta do fogo brasileiro”, relembra Sávio.
Paraense Alanna e Thais, Savio e amigas no show de Beyoncé
Redes sociais/Reprodução
Após dançarem tecnobrega na fila e a assistirem o show, foi unanimidade entre os brasileiros a realização:
“Ir ao show da Beyoncé sempre foi meu sonho, mas nunca tivemos uma turnê passando por Belém e a dinâmica de ir a outro estado não facilitava a realização desse sonho. Então esperei meu momento chegar. […] O show foi maravilhoso, tenho dito aos meus amigos que Beyoncé não faz show, ela tem um verdadeiro espetáculo: canta, dança, ri e pede ajuda pra plateia quando cansa ou erra qualquer parte da música, é sensacional”, afirma a paraense Allana Joana.
“Beyoncé é realmente um acontecimento. O show foi incrível, ainda estou me recuperando e ansiosa pelo próximo”, relembra Thais.
“Sempre gostei da Beyoncé, mas esse novo álbum toca num lugar que amo, o gosto pelo house e disco. O elementos que ela misturou nesse álbum me atiçaram para ir atrás desse show”, conta Savio.
“Beyoncé do Pará”
Durante o show, Gaby Amarantos não segurou a alegria e as lágrimas. A artista paraense falou da sua inspiração por Beyoncé em uma rede social. Gaby, teve projeção nacional ao apresentar no programa do Faustão, da Rede Globo, o hit “Single Lady”, que, na versão tecnobrega, se tornou “Hoje eu tou solteira”. À época, conhecida como “Beyoncé da Amazônia”, Gaby estourou no Brasil.
Gaby Amarantos se emociona em show de Beyoncé; paraense já foi conhecida como ‘Beyoncé do
“Hoje, eu fui fã e poder ver a minha ídola brilhando foi um tipo de benção. Obrigada por tudo, Beyoncé! Por me inspirar tão forte. A minha ‘Bey do Pará’ está vivíssima aqui dentro e eu sou porque você é. Loveú, my Queena”, declarou Gaby por uma rede social quando ainda estava na platéia do show.
Segurando uma bandeira do Pará, Gaby aparece aos prantos em vídeo publicado nas suas redes sociais. “Estou chorando e desprovida de toda a minha beleza, mas eu vivi a experiência mais incrível de toda minha existência. Ver essa mulher no palco e presenciar o amor que ela tem por essa profissão fez renascer em mim a confirmação de que cantar é o maior presente que o Senhor me deu”, disse a paraense.
Artistas emergiram de culturas pretas e periféricas
Segundo o pesquisador musical e DJ, Zek Picoteiro, as duas artistas, Beyoncé e Gaby Amarantos, têm muito em comum.
Beyoncé durante nova turnê
Reprodução/Instagram/@beyonce
“Mais do que só a aparência, mais do que só a música, são duas artistas pop que emergiram de culturas pretas e periféricas: A Beyoncé hip hop e a Gabi no Tecnobrega. São duas artistas que surgiram dentro de bandas também, dentro de conjuntos e depois seguiram carreira solo”.
Gaby Amarantos posa com a bandeira do Pará no show de Beyoncé
Redes sociais/Reprodução
Assim como Gaby começou a carreira com versões brasileiras de música de Beyoncé, o pesquisador lembra essa característica do brega e suas variantes, de dar novas letras, em português, aproveitando melodias de sucessos internacionais. O brega, inclusive, é reconhecido como patrimônio cultural e imaterial no Pará.
“‘O hip-hop e o tecnólogo têm uma coisa muito forte em comum que é a cultura do sample. O hip hop surgiu quando o DJ passou a usar os toca-discos com instrumentos musicais, interferindo nas músicas, manipulando-as. Então, eles selecionavam trechos das músicas que não continham letra, não continham voz, pegavam só a parte instrumental pra rima, enquanto as pessoas dançavam na pista. Isso fortaleceu a cultura do hip hop e no tecnobrega. Essa cultura de ”samplear” está no surgimento dos dois gêneros musicais, no hip hop e no brega”, detalha Zek Picoteiro, como o pesquisador prefere ser chamado.
Ele também fala sobre como os dois gêneros musicais dá voz a regiões que muitas vezes tem dificuldade de ser ouvida abertamente.
“‘São dois gêneros musicais criados, produzidos por pessoas de uma classe marginalizada, colonizada. Aqui, no nosso caso, a gente está no norte do Brasil, é a colonização da colonização. Avalio como uma resposta, a gente sempre traduz para nossa linguagem. Isso que representa a cultura do samba no tecnobrega, a cultura de aparelhagem, ela tem esse esse valor, de de traduzir, de transformar tudo que a gente recebe, absorve da cultura dominante para nossa linguagem, para nossa pegada, para o nosso sotaque, para nossa forma de dançar, para o nosso jeito de consumir, produzir e distribuir música, que é um jeito muito próprio nosso dentro da cultura de aparelhagem”, afirma Zek.
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