‘Nunca mais tive uma noite de sono tranquila’, diz mãe de jovem que morreu ao cair de viaduto durante protesto de 2013 em BH

Douglas Henrique de Oliveira morreu aos 21 anos; ele caiu do Viaduto José Alencar, na Pampulha, no dia 26 de junho de 2013. Milhares de pessoas participaram das manifestações em todo o país naquele ano. junho de 2013, 10 anos depois
arte g1
“Agora mesmo eu estava mexendo no perfume dele, de vez em quando eu dou uma ‘borrifadinha’ para sentir o cheiro dele. Dez anos parecem muito tempo, mas, para mim, parece que foi ontem”.
Esse é o sentimento de Neide Maria Caetano de Oliveira, mãe de Douglas Henrique de Oliveira, que morreu aos 21 anos depois de cair do Viaduto José Alencar, na Região da Pampulha, em Belo Horizonte, durante um protesto no dia 26 de junho de 2013.
Douglas Henrique de Oliveira morreu durante os protesto de 2013
Arquivo pessoal
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Naquele dia, enquanto o Brasil enfrentava o Uruguai no Mineirão, pela semifinal da Copa das Confederações, mais de 50 mil pessoas protestavam nas ruas do entorno. Houve depredações, incêndios e confronto entre manifestantes e policiais.
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“Eu pedi: ‘Meu filho, não vai, não, eu estou com uma impressão tão ruim’. Mas ele disse: ‘Mãe, a gente tem que pedir mudança, uma vida melhor para as pessoas’. E o que adiantou? O preço da passagem só aumentou, famílias inteiras estão morando nas ruas, passando frio e fome, a desigualdade é muito grande. Não mudou nada, a única coisa que mudou foram nossas vidas”, disse Neide.
Além de Douglas, Luiz Felipe Aniceto de Almeida, de 22 anos, morreu em decorrência dos protestos de 2013 em BH. Ele caiu do mesmo viaduto, na Pampulha, durante uma manifestação no dia 22 junho. O jovem chegou a ficar internado por quase 20 dias, mas não resistiu.
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Alexandre Rezende/G1
Na época das manifestações, Douglas trabalhava como ajudante de produção em uma empresa. Ele e as duas irmãs, hoje com 22 e 32 anos, foram criados pela mãe.
“Nós éramos muito unidos, muito ligados e iguais, por isso, volta e meia, a gente batia de frente. Depois, ele me abraçava e falava: ‘Mãe, me desculpa, eu amo tanto a senhora’. Ele não saía de casa sem me abraçar”, contou Neide.
Dia das Mães e o mês de junho
Nos últimos dez anos, o aniversário dela, o Dia das Mães, o Natal e o mês de junho se tornaram dolorosos.
“Eu não esqueço dele um só dia, mas nessas datas me dá um aperto tão grande no peito. Parece que a falta do abraço dele dói mais […] Pode passar o tempo que for, todo dia, toda hora, toda noite vem aquela saudade. Depois que eu perdi o Douglas, nunca mais tive uma noite de sono tranquila, não tenho paz, não tenho sossego. A dor ameniza, mas não passa”, afirmou.
Aos 53 anos, para Neide, resta a esperança de que, um dia, as mudanças que o filho reivindicou se tornem realidade, para que as netas, de 2 e 4 anos, vivam em um país mais justo.
“Eu rezo todos os dias pela nação, pelos oprimidos. A gente pede a Deus para tomar conta do Brasil”, falou.
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