Caso Amarildo: 10 anos depois, seis PMs condenados seguem trabalhando na corporação; ninguém está preso

Entre os agentes que seguem trabalhando na Polícia Militar, está o major Edson Raimundo dos Santos, comandante da UPP da Rocinha na época do caso. Policiais foram condenados em 2016. Amarildo desapareceu em julho de 2013 na Rocinha. Seu corpo nunca foi encontrado.
Reprodução: TV Globo
Seis condenados pela morte do ajudante de pedreiro Amarildo de Souza seguem trabalhando na Polícia Militar do RJ dez anos após o crime. A informação foi confirmada pela corporação. (Veja abaixo em que área cada um atua)
Amarildo sumiu após ser levado por PMs para ser interrogado na sede da UPP da Rocinha durante a Operação Paz Armada, que pretendia combater ao tráfico de drogas na comunidade, em julho de 2013. A Justiça concluiu que Amarildo foi torturado até a morte. O corpo dele não foi encontrado até hoje.
Entre os agentes que seguem trabalhando na Polícia Militar, está o major Edson Raimundo dos Santos, comandante da UPP da Rocinha na época do assassinato – ele foi condenado a 13 anos e sete meses de prisão.
De acordo com a Secretaria estadual de Administração Penitenciária (Seap), nenhum dos condenados está preso dez anos após o desaparecimento do corpo da vítima.
Os condenados foram para diferentes unidades do sistema prisional. Em março de 2019, quatro PMs acusados foram absolvidos pela Justiça e deixaram a unidade prisional da Polícia Militar.
Major Edson, condenado no caso Amarildo, vai cumprir restante da pena em prisão domiciliar
Meses depois, em agosto, foi a vez do Major Edson Santos, conseguir o benefício de cumprir a pena em prisão domiciliar. Na época, a juíza responsável afirmou que um dos motivos era o fato de que “o Estado tem apenas uma casa de albergue para presos e que as vagas são insuficientes”.
Detalhes do crime: veja qual foi a participação de cada policial condenado
O corpo de Amarildo de Souza não foi encontrado desde 2013
Reprodução/TV Globo
Em 2016, 12 policiais militares foram condenados pela morte e desaparecimento do corpo de Amarildo. Os policiais respondem por tortura seguida de morte, ocultação de cadáver e fraude processual.
Major Edson Santos, comandante da UPP da Rocinha na época, foi condenado pela morte de Amarildo em 2016
Janaína Carvalho / G1
Além dos seis condenados que seguem no quadro ativo da Policia Militar, outros seis foram excluídos da Corporação. São eles:
Soldado Douglas Roberto Vital Machado
Soldado Marlon Campos Reis
Soldado Jorge Luiz Gonçalves Coelho
Soldado Anderson César Soares Maia
Soldado Wellington Tavares da Silva
Soldado Felipe Maia Queiroz Moura
Seguem na corporação:
Major Edson Raimundo dos Santos
Era o comandante da UPP Rocinha desde a sua inauguração e, segundo a Justiça, “foi o mentor intelectual da tortura” contra Amarildo. Sua condenação foi de 13 anos e sete meses de prisão. De acordo com a PM, ele trabalha na Diretoria Geral de Pessoal atualmente.
Segundo a Justiça, teria partido dele a ordem para que a vítima fosse capturada e levada à base da UPP. Além disso, comandou e orientou o sumiço do corpo da vítima, ordenando aos seus subordinados que retirassem o cadáver do local e o ocultasse.
O major Edson foi reintegrado à PM em fevereiro de 2021.
A advogada de defesa de Edson, Tatiana Fadul, disse que não tem autorização para falar dos processos.
Tenente Luiz Felipe de Medeiros
Foi subcomandante da UPP Rocinha. Era o primeiro homem abaixo do major Edson na hierarquia da unidade e, segundo a Justiça, “não só orquestrou todo o crime junto a Edson, como participou pessoalmente da execução”. Ele foi condenado a 10 anos e sete meses de prisão.
Atualmente, trabalha no Centro de Abastecimento de Insumos de Saúde da Polícia Militar.
O advogado Saulo Salles, que representa Medeiros e outros dois condenados, entrou com um recurso especial no Superior Tribunal de Justiça. “Estamos apontando nulidades no processo, certo que acreditamos na inocência de todos”, declarou.
Soldado Jairo da Conceição Ribas
O soldado Jairo da Conceição Ribas também atuou na captura de Amarildo e na condução dele à sede da UPP. Segundo a Justiça, não atuou diretamente na tortura da vítima, mas garantiu que o crime fosse cometido vigiando o entorno do contêiner. Sua pena foi de 10 anos e quatro meses de prisão.
Ele foi expulso da Polícia Militar, mas foi reintegrado à Corporação após decisão judicial em outubro de 2021.
Soldado Fábio Brasil da Rocha da Graça
Segundo a Justiça, Fábio participou da abordagem e condução de Amarildo à sede da UPP. Enquanto a vítima era torturada, permaneceu junto aos demais policiais de confiança dos superiores na contenção da área. Também contribuiu na ocultação do corpo.
Após ser condenado a 10 anos e quatro meses de prisão, foi expulso da Polícia Militar. Apesar disso, foi reintegrado à Corporação após decisão judicial em outubro de 2021.
Rachel de Souza Peixoto
Ela exercia a função de secretária do comandante. Segundo a Justiça, ficou comprovado que ela vigiou a sede da UPP durante a tortura de Amarildo. Ela foi condenada a nove anos e quatro meses de prisão. Ela segue trabalhando na Policlínica da Polícia Militar do Rio de Janeiro.
Thaís Rodrigues Gusmão
Sob ordem do major Edson, Thaís desligou as luzes do Parque Ecológico, localizado ao lado da sede da UPP, com o objetivo de diminuir a visibilidade dos arredores do local do crime. Ela foi condenada a nove anos e quatro meses de prisão. Atualmente, ela trabalha na Policlínica da Polícia Militar do Rio de Janeiro.
Relembre o caso
Amarildo foi levado por policiais da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) da Rocinha e nunca mais voltou para casa. Os policiais acreditavam que Amarildo tinha informações sobre o paradeiro de traficantes.
Investigações do Ministério Público conseguiram comprovar que o ajudante de pedreiro foi levado para a base da UPP da comunidade pelos PMs.
A Justiça concluiu que Amarildo foi torturado até a morte. O corpo dele não foi encontrado até hoje. Em 2016, 13 policiais militares foram condenados por tortura seguida de morte, ocultação de cadáver e fraude processual. Um deles, no entanto, já havia morrido quando a condenação saiu em 2016.
Adicionar aos favoritos o Link permanente.