Agricultura defende crédito rural em dólar via BNDES para reduzir custos

O Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) defende a ampliação do crédito rural em dólar oferecido pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) como uma alternativa viável para reduzir os custos financeiros dos produtores.

Em entrevista ao CNN Money nesta segunda-feira (24), o assessor especial do Mapa e presidente do conselho da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), Carlos Augustin, argumenta que a modalidade pode ser mais vantajosa do que o crédito tradicional em reais.

Ele avalia que o agricultor brasileiro tem que “fugir” do atual patamar da taxa de juros no Brasil, de 14,25%, e migrar para uma linha de crédito de dólar (em torno de R$ 5,75) mais juro de 8% ou 9% – que seria o cobrado no mercado internacional.

“Estamos objetivando dólar na agricultura. O agricultor não está tomando dólar, ele tem medo. Quem planta soja, milho, algodão, não precisa ter medo. Vamos tentar convencer, fazer uma grande campanha, porque o BNDES já tem essa linha, não é cara, é em torno de dólar + 8% ou 9%, que são os preços internacionais do juro”, disse.

“Nós temos que fugir do juro [brasileiro], nós não podemos pagar juro de 14% [atual patamar da Selic], nós temos que fugir desse juro do mercado interno e achar uma outra maneira de atender as necessidades [dos produtores].”

Segundo Augustin, os recursos internacionais captados pelo BNDES podem proporcionar taxas mais competitivas para o setor agropecuário. Ele explicou que o banco obtém esses recursos no mercado externo, onde as taxas de juros são menores do que as praticadas internamente.

Para tornar esses financiamentos acessíveis aos produtores, o BNDES aplica um spread de 1% sobre os valores captados e os bancos que intermediam a operação adicionam sua própria margem. Dessa forma, a taxa final para o agricultor depende do custo inicial da captação.

Se os mercados internacionais oferecem crédito a 5% ao ano, o agricultor brasileiro pode acessar o financiamento a 8,5%. Caso a captação ocorra a 4%, o custo final para o produtor fica em torno de 7,5%.

O diferencial desse modelo está na possibilidade de fugir da taxa básica de juros do país. Augustin destaca que o Brasil ainda não aproveita essa alternativa de forma significativa.

“É uma fonte inesgotável e não estamos aprendendo a usá-la. E no custeio, também podemos fazer. No financiamento de máquinas, por exemplo, emprestamos no primeiro ano R$ 8 bilhões e no segundo ano R$ 7 bilhões. Esse é um grande trabalho que temos que ampliar e vamos fazer essa campanha, que acho que vale a pena”, defendeu.

Silos e armazenagem

O assessor também abordou a necessidade de ampliar a capacidade de armazenagem no país para evitar gargalos logísticos e estabilizar o mercado de grãos.

“Hoje estamos com silos vazios, e estamos com silo vazio até porque os alimentos subiram a tal preço porque os mecanismos de governo não permitiam comprar, porque tinha que comprar no preço mínimo. Tem um projeto do [ministro do Desenvolvimento Agrário] Paulo Teixeira [para] que possa comprar acima do preço mínimo”, pontuou.

Ele destacou que é fundamental recompor os estoques reguladores, mas sem criar distorções no mercado.

“Temos que reestabelecer os estoques que foram parados no governo anterior. O que não vamos fazer é pirotecnia, interferir no mercado, fazer tablita, porque isso dá mais prejuízo, dá muita confusão no mercado e não está no nosso olhar”, disse.

Augustin também alertou para o déficit de armazéns no Brasil e o impacto disso na logística de exportação. De acordo com ele, há “uma defasagem enorme” e defendeu a instalação das estruturas em propriedades para diluir o prazo de entrega sem que as estradas fiquem cheias e acabem sendo desperdiçados insumos.

“Quando se põe armazém na propriedade, dilui o prazo de entrega no porto. Quando tem poucos armazéns, a soja e o milho caem do caminhão e têm que ir para o porto e afunila tudo. O Brasil não tem 50% do armazenamento da sua safra. Outros países têm 120% e nós temos 20%. Temos que ter melhor armazenagem para diluir as entregas para os portos”, frisou.

No Plano Safra 2023/24, o governo destinou R$ 6,6 bilhões para investimentos em armazenagem, um aumento em relação ao período anterior. A meta é reduzir os gargalos na logística e aumentar a capacidade de estocagem para evitar oscilações bruscas nos preços dos grãos.

Entenda as medidas do governo para baratear alimentos

Este conteúdo foi originalmente publicado em Agricultura defende crédito rural em dólar via BNDES para reduzir custos no site CNN Brasil.

Adicionar aos favoritos o Link permanente.